Ler, um ato de liberdade
Na semana transata cumpri mais um dos objetivos de vida, publicar um livro. Dizem que um homem antes de morrer deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Árvores plantadas, perdi-lhes a conta desde os tempos da escola primária, filhos, são dois. Agora, chegou o livro. Ou seja, já posso morrer, mas…ainda não quero. Penso publicar mais. A apresentação decorreu na sexta-feira passada, em Braga e o livro chama-se, FUT360L – Da Pereira à Pedreira. Há uma pergunta a que, pessoalmente, via redes sociais, ou telefonicamente respondi vezes sem conta, porquê – Da Pereira? (o motivo Pedreira está assimilado, ao que parece). Respondia sempre, manifestando a tristeza sentida por grande parte dos meus amigos não conhecerem o campo com a paisagem mais bonita do país. Informava-os que o Campo da Pereira é o campo de futebol do GD do Gerês onde comecei a jogar, ainda driblando árvores, existentes lá no meio – à época – e mais tarde me estreei no futebol sénior como jogador, treinador e dirigente. Aconselhei-os a passar lá um dia, ou a ir espreitá-lo da Cabeça da Boneca e garantia-lhes que não se arrependeriam.
Quanto ao livro em si, tento chamar a atenção para algumas das vicissitudes existentes essencialmente no futebol de formação. Continuo a acreditar que as crianças de hoje têm condições para virem a ser melhores futebolistas do que as do meu tempo, mas acredito também que nós, neste aspeto em concreto, fomos muito mais felizes. Não havia árbitros (sem com isto os estar a criticar) nem tempo limite (a não ser que anoitecesse). Não tínhamos de ouvir os pais durante o jogo, mas apenas no final deste se chegássemos com calças rotas a casa, e eramos nós que fazíamos as equipas. E quando havia grande diferença de valores, trocavamos jogadores para as equilibrar. Quando voltássemos no dia seguinte, os adversários de ontem poderiam ser colegas de hoje, com as vantagens formativas que tal encerra. Hoje as crianças não têm esta nossa liberdade. Infelizmente, nem as crianças, nem nós. Recentemente, levei a minha filha a ver o FC Porto de que ela é adepta (eu sei o que estão a pensar – nem todos somos perfeitos) nas meias finais da Taça da Liga e no decurso do jogo fui trocando impressões com um adepto portista, sobre alguns lances do mesmo. Quando o jogo acabou ele despediu-se de mim dizendo: até sábado. Eu retorqui – Sábado não vai dar para conversar, vamos estar em bancadas opostas. Olhou para mim questionando-se, sobre o que faria um adepto do SC Braga na bancada portista.
E eu pergunto, porquê? Porque não podemos ver o jogo lado a lado. Eu e ele? Eu e a minha filha? Porquê? Que (falta de) liberdade é esta? O livro também aborda esta e outras temáticas.
Quando sai do Gerês em outubro de 1974, para estudar em Braga, no Liceu Nacional Sá de Miranda, disseram-me que graças ao 25 de Abril havia liberdade. Ao que parece, algures neste intervalo temporal de 46 anos, esqueceram-se de me informar que voltamos a perdê-la. Send ler, na minha opinião, um ato de liberdade, convido-os a exercerem e readquirirem esse hábito e direito inalienável, através da leitura do FUT360L – da Pereira à Pedreira.