Futebol – múltiplas cores, diferentes sabores
Agora que o assunto do dia já não é o racismo no futebol, mas sim o corona vírus, percebi que a minha primeira ideia para este artigo, de escrever no título – M A R E G A – e deixar o resto da folha em branco já não teria impacto. O espaço onde agora escrevo, a continuar imaculado, poderia assumir múltiplos significados – todos os que quisessem atribuir à simbologia do nome com tinta preta a contrastar com a alvura da coluna branca que se seguia. Poder-se-ia até destacar a dupla cor do equipamento do Vitória SC que, demonstrando multirracialidade, alterna o branco com o preto. Mas isso seria nos dias em que o RACISMO teve honras de 1ªs páginas quando Marega abandonou o campo, permitindo a presidente da república, governo, ministros, secretários de estado, partidos políticos, autarquias e dirigentes desportivos assumirem postura de surpresa por ter havido manifestações racistas num jogo de futebol. Há quem diga que o líder máximo da UEFA, Aleksander Ceferin declarou guerra ao racismo com…uma baioneta. Por cá usamos faca de cortar manteiga, derretida ao sol.
O acontecido com alguns energúmenos disfarçados de adeptos de futebol, foi apenas um continuar de macacadas nas bancadas, semelhantes a muitas outras em inúmeros recintos desportivos deste país – por algum motivo existe o termo macaquinhos de imitação. O acontecido foi MUITO GRAVE, principalmente porque à meia dúzia de indivíduos malformados que iniciou as hostilidades, se juntaram (ao que consta) muitos outros, “cegos” por um resultado desportivo – tão cegos como os colegas e treinadores do ofendido que o queriam impedir de tomar a única atitude digna. Que os culpados sejam devidamente punidos para que estes episódios não se repitam em mais nenhum estádio é o desejo de todos os amantes da modalidade.
Dizem que é na formação que tudo começa, pelo que me preocupa mais a intolerância que infelizmente começa no futebol de base com encarregados de educação (??)a ofenderem árbitros treinadores e adversários, com treinadores a colocarem a vitória acima de tudo porque é assim que veem a modalidade ou porque há dirigentes e pais para quem…isso é o que realmente importa. Depois é só subir na pirâmide…futebolística. Estas atitudes que proliferam no desporto em geral, e no futebol em particular, esquecendo valores formativos levam ao surgimento das outras que encontram no futebol um excelente veículo de propagação e enorme visibilidade.
Parafraseando Martin Luther King – “I have a dream” – gostaria de ver um jogo, sentado ao lado de amigos, adeptos de clubes adversários e comemorar, sem sermos incomodados, os golos das nossas equipas alternadamente – de preferência, comigo a levantar-me mais uma vez que eles. O futebol, assim, surgiria com múltiplas cores que nos poderia levar a sentir diferentes sabores.
Nota de humor negro – Quando comecei a escrever este artigo, o Ruben Amorim era treinador do SCB. Quando o acabei já era treinador do SCP. Conclusão óbvia – Estou a escrever muito devagar.