Carlos MangasOPINIÃO

Um professor de EF confinado e quase “esgotado”

Desde que no dia 13 de março lecionei a última aula prática de Educação Física que me encontro em casa, em teletrabalho, sempre que possível na varanda para apanhar ar e não ficar pior do que…já estou.

Lecionar EF por computador sem ver os alunos que têm sempre justificação “válida” para a câmara não funcionar, fez com que optasse por ter EU mais trabalho. Envio pequenos vídeos de exercícios passíveis de realizar em casa, sem colocar em causa a sua integridade porque à questão se seguro escolar cobre lesões, o ministério NÃO RESPONDE, alertando-os sempre para que o nº de repetições esteja de acordo com as suas competências e/ou capacidades. Sugiro a realização de um mínimo de duas sessões semanais e solicito envio um pequeno vídeo a mostrar uma sessão. Como tenho três turmas dos cursos científicos x 24 alunos = 72 vídeos, estou a pensar dar baixa da NETFLIX.

Mas tenho mais três turmas, estas do ensino profissional, cuja lecionação é feita por módulos. Se no de dança, ainda podemos pedir o envio de pequeno vídeo a realizar o esquema apreendido, os restantes que seriam avaliados em termos práticos – ginástica acrobática e futsal – tal não é possível e a acrescer a estes, há o módulo de atividades físicas / contextos de saúde. Solicitam-se trabalhos escritos, individualmente ou em pares, para conclusão de todos os módulos, sendo as aulas síncronas para tirar dúvidas.

Isto é o que acontece nas aulas em frente ao computador explicando aos alunos o que se pretende, tentando acordá-los – às vezes literalmente – para o que importa, por exemplo, com pequenos vídeos de Suporte Básico de Vida ou entrevistas que ligam o desporto à vida. Depois há o trabalho assíncrono, eles a realizar, e nosso a ver… corrigir…responder…avaliar.

Como se ainda sobrassem muitas horas ao dia, falta cumprir a burocracia para o Ministério da Educação acreditar que estamos a trabalhar. Dar, por escrito, conhecimento ao Diretor de Turma (DT) do que fizemos – não chegam os sumários – e do que pedimos para fazer. Realizar semanalmente uma reflexão escrita sobre como decorreram as aulas – ainda não percebo como consegui lecionar 36 anos sem refletir semanalmente POR ESCRITO. O DT – que também sou – SÓ tem de reunir tudo, fazer monitorização semanal e questionar os Encarregados de Educação (EE) e o Delegado, semanalmente também, para saber se está a correr tudo bem, enviando também por correio eletrónico para cada um, a ficha de avaliação recebendo feed-backs respetivos de que dá conhecimento aos colegas. Obviamente, se há alunos que não ligam o computador ou não fazem o solicitado, os professores alertam o DT que, qual carteiro dos CTT, questiona pais e… responde a colegas. Na 6ª feira à noitinha, informei colegas do conselho de turma que, a meu pedido, a minha filha ia esconder o computador e só estava autorizada a devolvê-lo 2ª feira.

Para além de confinado sinto que estou a ficar perturbado e esgotado, porque para mim, ensinar, implica relacionamento pessoal, exemplificar, corrigir, incentivar, tudo isto, olhos nos olhos e não…assim.

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