DestaqueTERRAS DE BOURO

Nem a Covid-19 interrompeu as Vezeiras, tradição secular do Gerês

Apesar da pandemia, as vezeiras, um secular sistema de rotação entre pastores, no alto da Serra do Gerês, continuaram a realizar-se este ano, como o ‘Terras do Homem’ testemunhou, junto de um grupo de Vilar da Veiga, a maior freguesia de Terras de Bouro.

As vezeiras, originalmente, permitiam que a prática da pastorícia, sempre à vez, deixasse o tempo livre para trabalhos que exigiam mais atividade intensiva como a agricultura. Quem tivesse mais cabeças de gado, mais vezes tinha que subir até à Serra do Gerês, nos quatro meses entre os dias 15 de maio e 15 de setembro.

Este ano, o que não houve no centro da vila termal do Gerês foi a festa de arromba, como a que tem vindo a realizar-se, com comes e bebes, mais atividades culturais de permeio.

Mas a principal das iniciativas, a Subida da Vezeira aconteceu, assim como a 15 de setembro, a Descida da Vezeira, será efetivada, no percurso do gado, até Vilar da Veiga e Rio Caldo.

Tradição com muitos séculos

João Landeira, da Associação da Vezeira de Vilar da Veiga, disse ao ‘Terras do Homem’ que “a tradição desta prática das vezeiras já é de muitos séculos, a nossa instituição foi registada há mais de 300 anos, mas hoje em dia as pessoas fazem isto mais por ‘desporto’, pois já não vivem do campo, mas não deixaremos morrer a tradição”.

Com o gado bovino disperso e, muitas vezes, até a perder-se de vista à procura de melhor pasto pelas serranias geresianas, a tradição ainda é o que era.

Apesar de já não viverem do pastoreio, todos têm outras atividades profissionais, por nada este mundo estes minhotos perdem a oportunidade de convívio, longe do bulício da cidade, pernoitando em cabanas de abrigo, que os próprios consertam todos os anos.

Ainda segundo João Landeira, “apesar e já não vivermos disto, as regras são para cumprir, se, por exemplo, não puder vir na minha vez, tenho de pagar a alguém para fazer o serviço, mas todos os anos fazemos tudo, antes das vezeiras, limpar as cabanas e os trilhos”.

Depois do Dia do Chamado, sempre no último domingo de abril, que é a assembleia anual dos vezeiros de Vilar da Veiga, no primeiro fim de semana de maio, tem lugar outra iniciativa decisiva, a realização dos Covais, consistindo na limpeza dos trilhos e das fontes, bem como o arranjo das cabanas, ou fornos, como lhes chamavam os mais antigos quando para além das atuais vezeiras das vacas, havia dos bois, das cabras e das ovelhas.

Vezeira tem regulamentos

A regulamentação escrita, no caso da Vezeira de Vilar da Veiga – já que existe a de Rio Caldo e houve a de Vilarinho da Furna, até finais da década de 1960, antes da aldeia ter sido submersa -, recua até ao ano de 1882, embora a prática da transumância seja muito anterior.

Os estatutos foram registados no Cartório Notarial de Vieira do Minho, a 27 de abril de 1962, como Sociedade de Socorro Pecuário da Freguesia de Vilar da Veiga, dedicada ao gado vacum.

Este registo vem na sequência da fruição das regalias reconhecidas aos pastores, através do decreto de 13 de dezembro de 1888, quando os Serviços Florestais ocuparam terrenos fruídos pela comunidade serrana, tendo em 1971 passado todos os espaços do Estado Português a serem geridos pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *