Mais de meio milhar de multas aplicadas a turistas no Gerês
O Parque Nacional da Peneda-Gerês registou durante o verão a maior afluência de turistas de que há memória, em grande devido às consequências da epidemia da Covid-19. A procura foi acompanhada de um elevado número de acidentes nas praias fluviais e nas cascatas, a par da aplicação de mais de meio milhar de multas só por infrações à visitação do parque.
Segundo dados oficiais da GNR, só nas praias fluviais, entre Rio Caldo e Vilar da Veiga, o Comando Territorial de Braga, onde se registaram três mortes (dois afogamentos e um acidente com moto de água que levou ao falecimento da vítima dois dias depois), foram aplicados 154 autos de contraordenação.
A maior parte dos quais por condução de motos e embarcações sem a respetiva carta de condução, enquanto o estacionamento irregular nas zonas fluviais, condicionando a fluidez do trânsito, levou ao levantamento de 230 multas, com 157 autos por acesso a zonas de proteção total.
Mas a fiscalização mais específica foi também intensificada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestal (ICNF), com os guardas florestais e os vigilantes da natureza, levando a que de 2019 para 2020 tivesse sido duas vezes e meia mais o número de coimas mais específicas (de 20 para 48), com quantias a quase triplicarem (7960 euros para 27140 euros).
Este trabalho foi feito em parceria com valências específicas da GNR, Serviço de Proteção de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) e Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) que elaboraram os autos por queima de resíduos por empresas e particulares, fogueiras no parque e acesso a zonas de proteção total, o que só possível com a devida autorização do PNPG.
“Gerês Seguro 2020” atenuou problema
Segundo afirmou ao ‘Terras do Homem’ o presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, Manuel Tibo, “houve este ano um acréscimo muito acentuado de turistas, o que saudamos, mas a verdade é que associada a essa procura, muitos não cumprem as regras para a sua própria segurança, o que leva as autoridades a ter de atuar. Mas só o fazem depois de sensibilizar e, às vezes, só mesmo as coimas para dissuadir certas situações”.
Este ano a autarquia terrabourense e a Gerês Viver Turismo, já partiram para o terreno com a iniciativa “Gerês Seguro 2020”, tendo a Câmara disponibilizado uma equipa com viatura para,” todas as terças e quintas-feiras, reforçar a limpeza e recolha de lixo em zonas com uma forte presença de visitantes, como são o Miradouro da Pedra Bela, a Cascata do Arado, a Mata da Albergaria, entre outros locais de maior afluência, ao mesmo tempo que foi acautelada uma recolha mais eficiente do lixo, através dos contentores nos perímetros urbanos, como sucedeu já na Vila do Gerês”.
Manuel Tibo explicou que “só com a criação de infraestruturas, mais fáceis, mediante a futura atribuição de competências territoriais aos cinco municípios do parque, finalmente haverá condições para evitar acidentes e abusos, dissuadindo excessos e evitando multas”.
“Foram entregues mão a mão quatro folhetos de sensibilização, divulgando um conjunto de regras e de boas práticas ambientais, de forma clara e simples, relativas à ocupação e à utilização segura e limpa dos locais de maior afluência turística”, explicou Manuel Tibo, que preside ao segundo maior perímetro de área protegida do PNPG.
Críticas do autarca de Montalegre
Também o presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves, confirma que “tivemos aqui muitos mais turistas este verão, o que ajudou muito a dinamizar a economia local, mas lamento que só neste ano muitos portugueses descobrissem as potencialidades destas regiões do interior em geral e do Parque Nacional da Peneda-Gerês em particular”.
Montalegre, em cujo Baixo Barroso há também cascatas muito procuradas, desde Fafião e Pincães, passando pela de Cela Cavalos, dispondo de outras zonas paradisíacas, como o Poço Azul, as Sete Lagoas e a Oitava Maravilha, já tem registado acidentes e casos em que os turistas se perdem, por isso a Câmara Municipal de Montalegre está muito atenta.
Orlando Alves salientou que “o nosso único parque nacional, onde todos são muito bem recebidos, não pode continuar a ficar no fim das suas visitas conspurcado com todo o tipo de porcaria, nem ser um local onde muitos vêm apenas para curar as mazelas de espírito ou desgostos de amor, perdendo-se muitas vezes pelos montes e colocando em risco os bombeiros e os militares que só para os socorrerem tantas vezes arriscam as vidas para os salvarem”.
O autarca congratula-se “com as coimas aplicadas pelas autoridades” e defende “o pagamento do custo de todos os salvamentos”, por parte dos sinistrados e dos perdidos.