Carlos MangasOPINIÃO

Para colher, é necessário semear

Agora que no concelho decorre a festa das colheitas, é tempo de nós, professores, na escola, percebermos também a colheita – de alunos – que nos tocou este ano. Depois de algumas semanas de aula já conseguimos perceber quem temos à nossa frente. Em alguns casos, já conhecemos os alunos de outros anos. No entanto, agora, as continuidades são descontínuas porque depois de dois anos COVID com aulas on-line e atividades extracurriculares suspensas não deu para conhecer completamente a maioria dos alunos, como acontecia nos corta matos escolares, no desporto escolar, no cicloturismo e, os finalistas, no Caminho de Santiago.

É consensual e por todos assumido e percebido, que para colher é necessário…semear, estejamos a falar da agricultura, do comércio, do ensino ou do desporto. Viu-se recentemente na conquista do mundial por parte da nossa seleção de futsal, que tal sucedeu porque de há dez anos (pelo menos) a esta parte, a equipa técnica e estrutura federativa têm investido e semeado (aumentando a base de recrutamento) por forma a poderem agora colher os “frutos” prometidos e…merecidos.

Na escola também acontece o mesmo com alunos e professores. A nós compete-nos semear e promover conhecimento que eles depois colherão, ou não. No ensino secundário, os alunos já nos surgem também com dez ou mais anos de “cultivo” e crescimento adequado, ou não. Cabe-nos tentar que os que vêm bem preparados para o que se aproxima (ensino superior) não se desviem do caminho percorrido e sejam incentivados e ajudados rumo ao sucesso pretendido e para o qual deram tantos anos de investimento. Aos outros, cujo GPS avariou algumas vezes pelo caminho, compete-nos tentar acertar-lhes a rota, embora todos saibamos que quando se desviaram muito, dificilmente conseguem, eles e nós, no tempo previsto, a meta pretendida.

Numa escola com muitos alunos subsidiados, a capacidade de gerir emoções é fundamental, pelo que, muitos de nós, também, já com alguma idade (que não senilidade) vermos aumentada a nossa capacidade de lidar com emoções, possibilitando assim a prestação de um apoio mais efetivo e, muitas vezes…afetivo. Os professores têm este mau vício, preocuparem-se com a semente e a colheita, contrariamente a alguns outros decisores deste país que se preocupam com a colheita, apenas e só, quando esta é de excelência.

Na recente conquista do Mundial de futsal, deu-me volta ao estômago ver dois políticos que (como se diz de alguns futebolistas) passaram ao lado de uma grande carreira (não percebi se da AVIC ou TRANSDEV), no palácio de Belém quando da homenagem aos campeões do mundo. Os nossos atletas, se atingiram o nível que lhes permitiu esta importante vitória, devem-no essencialmente ao investimento pessoal na modalidade, o que lhes permitiu serem profissionais. Honra e mérito também aos clubes que lhes prestam condições ideais para a prática e, como disse acima, à excelência do trabalho federativo.

Nesta “festa das colheitas”, qualquer agricultor ou empresário dirá e ensinará o óbvio, a alunos, futebolistas, professores e políticos: para colher é necessário semear. Assim todos o saibamos fazer.

Carlos Mangas [Professor de Educação Física]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *