“O nosso primeiro objetivo é trazer mais pessoas para a Iniciativa Liberal em Vila Verde”
João André Silva é vilaverdense de gema, nunca se envolveu em partidos políticos “porque nunca achei que algum deles defendessem as mesmas ideias que eu”. Votou sempre, normalmente voto nulo, até que, nas redes sociais, ‘descobriu’ a Iniciativa Liberal: “hoje vejo que as minhas ideias sempre foram liberais”.
Frequentou o núcleo de Braga até que foi desafiado a criar um núcleo em Vila Verde que está a dar os primeiros passos.
Que motivações estão na base da criação de um núcleo da Iniciativa Liberal em Vila Verde?
Eu já fazia parte do núcleo da Iniciativa Liberal de Braga. Cheguei a pertencer à mesa do Plenário e os elementos insistiam muito para que se pudesse criar um núcleo em Vila Verde até porque faz parte da linha do partido a expansão, começar a ir para outros concelhos. A Iniciativa Liberal não tem concelhias, não tem distritais, há o partido principal e depois os núcleos que têm por base os concelhos e onde não há núcleo, as pessoas podem aderir ao núcleo que quiserem. Porque precisamos cada vez de mais gente, faz sentido esta expansão e nesse sentido, convenceram-me a tentar arranjar o número de pessoas exigido e quando conseguimos fizemos o pedido ao partido para criar o núcleo.
Quem são as pessoas que pertencem ao núcleo?
São liberais como eu, que nos fomos conhecendo através das redes sociais, o normal do partido que se dá a conhecer através das redes sociais. As pessoas foram contactando o partido e foram incentivadas a se inscreverem para se poder ter o núcleo em Vila Verde.
Uma das ideias que se tem, é que a IL tem cativado muitas pessoas que não estiveram ligadas a partidos…
A maioria nunca esteve ligada a nenhum partido, com exceção de uma muito pequena minoria e outra coisa muito comum é o facto de serem pessoas jovens.
E porque é que acha que a juventude adere a um partido como a IL?
Essa é uma muito boa pergunta porque ainda não se percebeu muito bem o que faz os jovens aderirem à IL. Para mim, tem muito a ver com a informação que têm à disposição hoje em dia, depois vêm na IL algo que dá solução ao futuro deles. Neste momento, o seu futuro é emigrar porque o que têm são baixos salários e muitas horas de trabalho. Por isso, se calhar, olham para a IL e vêm que há outra maneira de fazer política, outra maneira de organização do estado, que nunca foi testada em Portugal, mas já foi noutros países e funciona muito bem.
Outra ideia que existe é que núcleos deste tipo pretendem angariar mais votos para o partido a nível nacional do que propriamente local. Como é que a IL se pretende implementar em Vila Verde?
O primeiro foco do núcleo de Vila Verde é, precisamente, o crescimento. Sem gente, não fazemos nada. A primeira fase terá que ser focada em novos membros e pessoas que apoiem a IL, para que, no futuro, se possa ter massa crítica. Se olharmos para o exemplo de Braga, que já concorreu às eleições autárquicas, conseguiu eleger um deputado municipal e alguns membros em freguesias. Nós só nos podemos virar para os problemas do concelho, tendo gente e nesta altura é essa a nossa prioridade. Para já, somos muitos poucos, temos que crescer e para isso, precisamos mostrar o que IL é a nível nacional, que ideias é que tem e de que forma isso se traduz para o local.
Se calhar, é fácil explicar o liberalismo em grande escala, mas como se explica em escalas mais pequenas?
Da mesma forma porque o que se aplica ao Estado, aplica-se ao governo de uma câmara…Por exemplo, nós defendemos a baixa de impostos e a criação de uma taxa única e nos municípios isto pode ser aplicado. Em todas as taxas criadas localmente, os municípios têm interferência e podem geri-las da forma que quiserem.
A IL defende menos Estado, logo mais poderes para as câmaras, é isso?
Nós defendemos a descentralização, logo, em alguma altura, vamos ter mais câmara. Mas isso, não quer dizer mais funcionários, por exemplo. Uma das coisas que se discute, é porque se passam competências para as câmaras e não se passam os funcionários? Haverá uma duplicação de funcionários que não se percebe bem porquê… porque se o estado deixa de ter competências e essas passam para os municípios o que vão ficar a fazer os funcionários?
Mesmo a passagem de competências tem que ser bem pensada… na educação não é só passar infraestruturas, é passar tudo. As câmaras fazem a manutenção das escolas e ficam com os funcionários auxiliares, mas com os professores já não têm nada a ver. Não se pode fazer um projeto educativo adaptado à realidade local, portanto, esta descentralização é tudo uma grande confusão.
Tudo isso não pode ser contraproducente, quando ainda vivemos muito à volta do amiguismo e dos familiares?
Essa é uma das questões que a IL tem como crucial: o mérito e não o nepotismo. As pessoas têm que chegar aos lugares por mérito e não pelo amiguismo. Essa foi sempre a questão abordada quando se fala na transferência de competências dizendo que isso vai aumentar o amiguismo. Um concurso para o poder local não pode ser diferente ou mais obscuro do que outro para o poder central. As regras têm que ser iguais e cumpridas.
Associada à IL, está também a questão do privado versus público. A nível local isso passa pelo apoio à criação de mais empresas, à criação de contratos externos para a gestão de determina área?
Isso é outra coisa muito mistificada. A IL não defende o privado em detrimento do público ou vice-versa, isso não existe. A IL defende que haja concorrência, que os privados possam operar nas mesmas condições que o público, na saúde e na educação, por exemplo e que sejam as pessoas a escolher onde querem recorrer. Na saúde, e alguns municípios têm-no feito, é transpor a ideia de um seguro de saúde para todos, tipo ADSE, mas para todos. Já há municípios a fazerem um seguro de saúde para os munícipes, que pagam um valor e podem recorrer a um qualquer serviço de saúde existente nesse município.
Mas isso, por exemplo, no caso da educação, não pode originar que haja escolas sem alunos?
Se a escolha foi feita pelos pais e pelos alunos, não há problema nenhum, na minha opinião. São eles que têm que escolher e, hoje, é ao contrário e a discriminação é feita por quem decide. Se eu quiser por os meus filhos numa escola privada, eu tenho que ter poder financeiro para o fazer e há pessoas que não têm essa facilidade, logo, já há aqui uma discriminação. Todos deveriam ter a oportunidade de escolher. Se o financiamento em vez de ser feito às escolas for feito aos alunos, eles escolhem onde vão estudar. Isto até pode fazer com que uma escola que fique com menos alunos repense o seu projeto educativo e o caminho que quer seguir. O critério não pode ser vão para aquela escola porque não têm outra ou porque o Estado diz que tem que ser aquela. Os partidos que defendem a escola pública estão a promover a discriminação porque não estão a dar apoio a quem precisa para puderem escolher a sua escola e estão a fazer que aqueles que financeiramente podem escolham para onde querem ir.
Como vê o concelho de Vila Verde?
Eu acho que o concelho tem um problema, que não é de agora, é muito fogo de vista, faz-se muito para mostrar. Para mim, as coisas são práticas, se tiverem que se fazer fazem-se, mas não para mostrar. Atualmente, tem havido algum investimento em infraestruturas, sobretudo no centro, mas parece-me tudo muito opaco. Nós não sabemos como se decide determinado investimento, quais são as suas razões. Tentei dar uma vista de olhos no site do Município para tentar saber o que se passa, mas tenho enorme dificuldade porque é tudo muito confuso. Uma das coisas que o liberalismo traz é a transparência, nomeadamente, das decisões públicas. Posso não concordar, mas preciso de saber porque foi decidido assim, e não, porque alguém precisou de um caminho ou de uma obra. É um concelho que está muito estagnado a nível industrial, sei que não é fácil, há a questão da variante que é da responsabilidade do poder central que nunca mais anda, porque para chegar a Vila Verde é um pandemónio.
Quem é o João André Silva?
Sou natural do centro de Vila Verde, fiz o meu percurso escolar em Vila Verde, estudei na Universidade do Minho onde não acabei o curso. Trabalho numa farmácia em Vila Verde, entretanto, em 2015 licenciei-me em Solicitadoria, fiz o estágio e trabalhei em dois anos nesta área. Sempre me interessei, minimamente, por política, mas nunca me filiei em nenhum partido porque nunca achei que algum deles defendessem as mesmas ideias que eu. Raramente efetivei o meu voto em partidos, sempre votei, mas anulava os votos. Mesmo não pensando nisso nessa forma, hoje vejo que as minhas ideias sempre foram liberais.
Então como é percebeu que era liberal e decidiu aderir à IL?
Quando percebi que as minhas ideias eram iguais às dos liberais. Ao contrário de outros que estudaram os autores liberais, eu não os estudei, mas cheguei à conclusão que as minhas ideias eram iguais às deles. Comecei a acompanhar a IL, através da internet, quando nos primórdios elaboravam de forma colaborativa o Manifesto Portugal Mais Liberal, e até achei que era muito cedo transformar esse movimento em partido até porque Portugal é um país habituado ao Estado que está em todo o lado. Achei que iria demorar tempo em convencer as pessoas que o liberalismo podia ser um caminho. Afinal, enganei-me porque o partido conseguiu ter representatividade parlamentar. Inscrevi-me na altura das europeias e nas anteriores eleições legislativas como éramos muito poucos, integrei a lista de Braga. Elegemos apenas o Cotrim Figueiredo, mas o trabalho e as nossas ideias chegaram às pessoas porque nas últimas eleições conseguimos eleger muitos mais deputados.
Lamento que tendo a IL mais deputados que o Bloco de Esquerda, se formos a ver o tempo que as televisões dão a cada um, o tempo do Bloco é sempre superior ao da IL. Para acompanhar o trabalho no Parlamento dos deputados da IL temos que seguir através da internet porque raramente passam na televisão as declarações dos nossos deputados.
A IL de Vila Verde tem reuniões, encontros?
É tradição no partido fazer encontros em espaços públicos onde as pessoas possam ir, conhecer, conversar, por questões, dar a sua opinião, são os chamados ‘Cafés Liberais’ que, também, existem em Vila Verde e que os começamos a fazer, ainda antes da criação do Núcleo. Vamos, agora, a retomá-los após o verão. Nós temos um Grupo de Coordenação Local que reúne, mensalmente, para definir estratégias, e em setembro vamos ter já algumas ações. A IL não tem uma sede física, a não ser a nível nacional, e as reuniões são feitas em vários locais.
Que tipo de ações é que estão pensadas?
Sempre ações para dar a conhecer o partido. Ações públicas como palestras e debates com deputados, para desmistificar o liberalismo. Claro que sempre que haja oportunidade de intervir no concelho, sempre que virmos que alguma coisa vai contra as liberdades das pessoas iremos intervir. Para já, temos que pensar em termos número maior de militantes, até para que no futuro, possamos fazer listas para as autárquicas.