A Comissão Promotora de Homenagem a António Variações (2018-2024) participou, ontem, na Assembleia Municipal de Amares para apelar à construção de um Museu António Variações na antiga Escola Primária, em Fiscal.
As intervenções estiveram a cargo de Carlos Dobreira, Manuel Mendes e Patrícia Ferreira, membros da CPHAV (2018-2024). A Família do cantor esteve presente na Assembleia através de tres irmãos, familiares e membros da CPHAV (2018-2024).
Na resposta, o atual Presidente da Câmara Municipal de Amares, Manuel Moreira, confirmou a existência de condições para a concretização deste projeto no edifício existente em Fiscal, o qual irá perpetuar a vida e obra do poeta e cantor falecido em 1984.
Segundo Carlos Manuel Dobreira, professor e ativista ambiental, referiu que em “tempos visitei, a convite do Presidente da Junta de Freguesia de Fiscal, a Escola Primária onde António Variações estudou. Fi-lo, como cidadão livre e conhecedor da vida e obra de António, numa postura de observação e de reconhecimento do espaço mas a pensar no futuro. E que futuro? Naturalmente, e com algum atrevimento, o do Museu António Variações”
Neste Museu caberiam valências/espaços para crianças, jovens com necessidades específicas, para terapias alternativas, um centro de estudos, uma biblioteca, uma sala de exposições temporárias dos fãs e /ou permanentes, um arquivo de espólio diverso, um estúdio de gravação e de multimédia, etc.
“Seria um museu aberto ao mundo com protocolos inéditos a celebrar, por exemplo, com a We are Family Foundation Bono (U2), o Museu Van Gogh (Amesterdão), o Ministério da Educação, ou com a Família de David Bowie. E claro com a Fundação Amália Rodrigues e a Associação José Afonso”.
Para Carlos Dobreira, “António está sempre a surpreender-nos. Está vivo. Reparem na última novidade do cantor com a letra e música Guerra Nuclear, interpretada por Marisa Liz, masterização de Pieter de Wagter, captação, registo de som, mistura e produção de Moulinex. António é fonte inesgotável para projetos de mediação de conflitos na Escola Pública obsoleta e em ruínas. Mas não só”.
Por isso, “a sua música, as suas letras são inspiradoras, por exemplo, no trabalho com alunos portadores de transtornos gerais do desenvolvimento ou perturbação do espectro autista (PEA), as altas habilidades ou sobredotação e até para interpretação por uma orquestra composta por pessoas com Parkinson.
A criação de um Museu António Variações em Fiscal é consensual para a sociedade portuguesa. “Portugal gosta de António Variações. Ele veio do povo minhoto e fez-se um cidadão do mundo. Citando Fabíola Lopes, num artigo publicado no Correio do Minho: ‘Em 2022 Amares não tem um museu ou espaço museológico, uma casa, sobre o António. Talvez não erre ao dizer que é a personalidade com mais destaque do século XX, daquela terra, com mais obra transversal a tantas gerações'”.
“Assim, na presença de três irmãos do cantor, de membros da CPHAV (2018-2022) e perante esta Assembleia, é tempo de apelar à concórdia para que o Museu venha a ser uma realidade”.
“Como gesto simbólico deixo ficar ao Presidente da Camara Municipal de Amares um exemplar da dissertação de mestrado do Professor Luís Carlos S. Branco, da Universidade de Aveiro, com o título António antes de Variações: o percurso inicial do cantor. Foi apresentada em 2018, tem 526 páginas e poderia ser um dos títulos disponíveis no futuro Museu António Variações”.
Para Manuel Mendes, agente cultural e artista, conheceu António Variações em 1983, numa freguesia de Amares, num concerto de Verão. Nas suas palavras, na altura como Presidente da ACOFA – Associação Cultural Organizadora de Festivais de Amares, “fiz-lhe o convite para ser o artista convidado do próximo Festival da Canção do Minho, ao qual aceitou de imediato.
“No dia do concerto, em 4 de Novembro desse mesmo ano, em Braga, foi uma autêntica loucura nas ruas da cidade. Os estudantes, eram às centenas a pedir autógrafos. (…) As canções com as mensagens levava a que o público ficasse agarrado às mesmas. Elas ainda hoje são cantadas pelos nossos Avós, Pais, Netos. Para os Minhotos e não só, é necessário o Museu dedicado a António Variaçôes para perpetuar a obra deste grande Artista”.
Segundo Patrícia Ferreira, ilustradora e pintora, “no presente vejo (e não sou a única) a oportunidade excecional de criar o Museu António Variações aqui, em Amares, não porque ‘é cá da terra e tem tem muito encanto’, não porque é um grande e valeroso artista local, mas antes pelo contrário, pela universalidade de que se reveste a sua obra, pela universalidade da sua poesia, pelo interesse que suscita em pessoas comuns e nas fora de série, dos pouco estudados aos académicos, em portugueses e estrangeiros, pela influência e fascínio que exerce em músicos, escritores e outros autores, pelo interesse manifestado pelo cinema, pelas escolas, pela curiosidade que desperta nos jovens, seja pela irreverência, seja pela atitude, seja por continuar a ser um porta-bandeira, passados todos estes anos sobre o seu desaparecimento, das mesmas dúvidas, dilemas, preocupações e sonhos, daí a sua atualidade”.
Falando da sua experiência disse que “no que à minha atividade e experiência profissionais tocam, como pessoa que pinta e ensina a pintar, espero que o Museu António Variações seja um espaço de descoberta, mais do que um sítio aonde se chega, um caminho; um lugar de fruição cultural, de conhecimento e memória onde o legado de António Variações com toda a sua heterogeneidade e riqueza possa sedimentar e lançar sementes para outros legados. Dele espero um serviço educativo irrequieto, ávido de novidade, com as artes como base e sustento, onde se ganhem competências a partir da música, da leitura, da escrita, da performance, da representação, da fotografia, da ilustração, da pintura e de todas as manifestações artísticas, abertas a todos de forma inclusiva e disponível”.
O Museu António Variações, em Amares, “pode e deve ser a casa onde esta história mora, se escreve e há de contar”.