A perda auditiva, além de ser uma limitação sensorial com impacto no desenvolvimento da linguagem e na aprendizagem, pode ter consequências sociais graves, como o isolamento. Agora, uma nova revisão de estudos científicos aponta para outra consequência preocupante: as crianças com perda auditiva apresentam maior risco de serem vítimas de bullying.
A pesquisa avaliou 17 estudos que comparavam a vitimização entre crianças com deficiência auditiva (surdez ou surdez parcial) e colegas com audição normal. Sete desses estudos concluíram que a perda auditiva está claramente associada a um aumento do bullying, enquanto apenas dois identificaram uma redução na vitimização. Importa ainda salientar que este fenómeno não foi vinculado ao uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares, refutando o estigma de que estes dispositivos possam expor as crianças a mais rejeição.
Esta conclusão coincide com outros estudos. Uma investigação da Universidade do Texas (UT Dallas) revelou que cerca de 50% dos adolescentes com perda auditiva relataram ter sido alvo de bullying pelo menos uma vez no último ano, quase o dobro dos 28% observados na população em geral. Muitas vezes, o que distingue estes jovens não é o aparelho auditivo que usam, mas os constrangimentos de comunicação que os tornam mais vulneráveis à exclusão social.
Essas dificuldades são especialmente críticas em ambiente escolar. Estima-se que uma criança com perda auditiva não corrigida possa perder até 50% das conversas em sala de aula, comprometendo a aquisição de vocabulário, estruturas gramaticais, leitura e escrita, que representam competências fundamentais para o seu sucesso académico e social.
“Estas conclusões mostram a importância de detetar precocemente a perda auditiva e garantir que as crianças tenham acesso a soluções adequadas, não só para proteger o seu desenvolvimento académico, mas também para salvaguardar o seu bem-estar social e emocional”, sublinha Celso Martins, Audiologista e Responsável Técnico da Minisom.