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Investigadores identificam vírus que está a infetar esquilos em Portugal

Num artigo publicado pela prestigiada revista Transboundary and Emerging Diseases, uma equipa multidisciplinar liderada por investigadores do CIBIO-InBIO, identificou, pela primeira vez, um adenovírus que poderá estar a afetar mortalmente esquilos em Portugal e que é diferente do existente na Europa.

Em Portugal, julga-se que o esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) se extinguiu no século XVI devido, sobretudo, à destruição e fragmentação dos habitats florestais. Desde a década de 1980, esta espécie tem vindo a expandir novamente no nosso país, tanto por processos naturais como através de projetos de reintrodução.

Esta é uma boa notícia para a saúde dos habitats florestais em Portugal, mas a população de esquilos pode ainda estar sob forte ameaça. Nos últimos anos, as populações de esquilo-vermelho de diversos países europeus, tais como Itália, Alemanha e Reino Unido, têm sofrido mortalidades significativas devido à presença de um adenovírus que provoca infeções respiratórias e gastrointestinais.

No estudo agora publicado na revista Transboundary and Emerging Diseases, uma equipa multidisciplinar liderada por investigadores do CIBIO-InBIO isolou e sequenciou um adenovírus num esquilo-vermelho morto com sinais clínicos e quadro lesional de necrópsia descritos pelos Médicos Veterinários Pedro Melo da Vetnatura, responsável pelo acompanhamento Médico-Veterinário dos exemplares translocados e Jorge Correia Patologista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, também autores deste artigo, como sendo sugestivos de infeção por este vírus.

Segundo João Corte-Real, primeiro autor do estudo, a sequenciação deste vírus demonstrou que este adenovírus é muito diferente do detetado nos outros países europeus, mas é praticamente idêntico ao detetado em populações de esquilo-vermelho da Coreia do Sul.

Para Pedro Esteves e Joana Abrantes, autores seniores do artigo e responsáveis pelo grupo de investigação Imunidade e Doenças Emergentes do CIBIO-InBIO, estes resultados demonstram que existem duas linhagens deste vírus muito divergentes a circular nas populações de esquilo-vermelho europeias, e levantam a questão de como terá chegado a Portugal esta linhagem tão diferente das que circulam na Europa. Pedro Beja, também autor do artigo, reforça a importância de monitorizar a presença deste e doutros vírus nas populações de esquilo-vermelho em Portugal para que os programas de reintrodução desta espécie tenham sucesso.

Este trabalho vem demonstrar a importância da caracterização de vírus em circulação na natureza uma vez que este conhecimento é fundamental para identificar possíveis ameaças para os animais selvagens e domésticos, mas também para o Homem.

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