Carlos MangasOPINIÃO

Educação cívica – ter ou não ter, eis a questão

Numa coluna que versa habitualmente assuntos desportivos e de educação, deixem-me divagar um pouco saltitando por outros temas em que, de uma ou de outra forma, a educação (ou falta dela) está presente também.

Como geresiano custa-me ler, e ver, nas redes sociais, notícias (e lixo) da (e na) minha terra. O Gerês e respetivo Parque Nacional sempre foram conhecidos por serem um pulmão do Minho, que importa preservar. Num ano em que a pandemia criou inúmeros constrangimentos em saídas para férias no estrangeiro, o Gerês com e sem divulgação de famosos, tem sido invadido por turistas que não era suposto terem conseguido sobreviver à pandemia. Isto porque, atendendo ao lixo que deixam no Parque, a comportarem-se assim nas suas casas – durante o confinamento – teriam morrido, não de COVID, mas do cheiro nauseabundo dos dejetos espalhados na residência. Basta seguir o lema “não deixes mais que pegadas, não tires mais que fotografias, não leves mais que recordações”. Cumpridos estes princípios básicos de cidadania, estou certo que todos teremos orgulho na preservação e divulgação de todas as belezas paisagísticas do nosso único Parque Nacional.

Mas, sendo do Gerês, questões profissionais e familiares levam-me, de há uns tempos a esta parte, a viver numa zona, também aprazível, junto à praia fluvial de Merelim S. Paio. A realidade é que esta espécie de paraíso diurno, durante a noite – quem sabe se devido ao fecho de bares e discotecas – torna-se um inferno. Um espaço agradável, com excelente parque de estacionamento, mesas de piquenique e uma praia fluvial com acesso a pessoas de mobilidade reduzida, é transformado em espaço de diversão noturna e caixote de lixo a céu aberto, quem sabe, pelo mesmo tipo de cidadãos que tão mal tem frequentado o Gerês. Não sabem o que são horas de silêncio, não percebem que nas casas das proximidades vivem pessoas que têm direito ao descanso e ainda não aprenderam para o que servem os inúmeros caixotes de lixo dispersos pelo parque de merendas.

Há também excelentes locais para caminhar junto ao rio. Um deles permitia até, a ligação entre a ponte de prado e a ponte do bico, sendo usado pelos residentes para caminhadas ou passeios de bicicleta. Recentemente foi cortado por alguém que, diz-se, enriqueceu lá fora e decidiu mostrar-se pobre – em cidadania – cá dentro. O novo dono do Paço de Palmeira/Quinta dos Ingleses, esqueceu as leis portuguesas e decidiu cortar a passagem junto ao rio, aos transeuntes ou cicloturistas, com o argumento que tal espaço lhe pertence. Confrontado com a lei, alegadamente, terá dito a quem o interpelou, que o podem multar à vontade porque tem muito dinheiro para pagar as multas. Numa altura em que muitos emigrantes são bem-vindos às suas terras para matar saudades, este é o exemplo típico de emigrante que, pela minha parte, bem podia ter continuado no estrangeiro, por muito dinheiro que tenha e pretenda investir na região.

Dizem que a educação não se compra, vem do berço. Os exemplos acima, infelizmente, mostram-no.

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