DestaqueVILA VERDE

Valdreu tem 10% da área ardida no concelho de Vila Verde

Atualmente, os incêndios florestais são um tema que tem vindo a ganhar cada vez mais relevância no contexto global, provocando nas populações sentimentos de medo e de insegurança.

Vila Verde não foge à regra e as freguesias mais a norte motivam especial atenção.

Valdreu é um caso paradigmático: 10% da área ardida entre 1990 e 2015 estava situada nesta freguesia. Os números estão vertidos para um estudo desenvolvido pelo vilaverdense, natural de Pico de Regalados, André Araújo, no âmbito de um mestrado em Planeamento e Gestão do Território.

Orientada por António Bento Gonçalves, a tese compara as freguesias de Cervães e Valdreu apontando as principais alterações no uso do solo entre 1995 e 2010, a área ardida e o número de incêndios florestais entre 1990 e 2015 e a respetiva recorrência de cada freguesia.

Um trabalho que contou com “a estreita colaboração de técnicos da câmara Municipal que estiveram sempre disponíveis no acesso e fornecimento de dados que serviram de suporte para a cartografia realizada”.

“Os resultados desta investigação apontam no sentido de haver uma necessidade de dar maior atenção à freguesia de Valdreu, freguesia predominantemente rural, a norte do concelho, afastada dos principais meios urbanos, com uma extensa área florestal e que entre 1990 e 2015, foi ‘responsável’ por cerca de 10% dos incêndios florestais em Vila Verde”, refere André Araújo.

Esta realidade “é mais preocupante” quando comparada com a da freguesia de Cervães, localizada no sul do concelho, com mais áreas vulneráveis em termos de IUF, próxima das cidades de Braga e de Barcelos, com melhores acessibilidades, e em que no mesmo período de tempo apenas registou cerca de 3% dos incêndios de Vila Verde.

Por isso, para o jovem vilaverdense “a aposta deve passar pelo reforço e melhoramento da vigilância, prevenção e combate em Cervães, com muitas áreas vulneráveis de interface urbano-florestal (IUF), e com tendência para o seu crescimento, mas sobretudo pela implementação de políticas e estratégias que permitam dotar o norte do concelho de condições económicas, sociais e ambientais que lhe confiram uma maior resiliência aos incêndios florestais”.

Ocupação do solo
Os incêndios florestais, de entre todos os riscos, são os que mais danos causam no concelho. Destes, normalmente, resultam extensas áreas ardidas e “uma preocupação constante por parte das populações para que estes não afetem as suas propriedades e bens”.
Em termos de ocupação de solo, o estudo diz que entre 1990 e 2010, no que toca à área agrícola, Valdreu manteve 92,30% da sua área, sendo que a maior fatia de perda foi para o setor florestal com 6,30%.

No que toca à floresta, esta manteve 98,67% da sua área, tendo perdido 1,02% de área para as áreas sociais. Por fim os matos mantiveram 95,37% da sua área, sendo que para a floresta perdeu 0,69% de área.

Relativamente à freguesia de Cervães, as áreas socias são as que menos área perdem, mantendo 99,97% da sua área, perdendo apenas 0,03% de área para a floresta. No que toca à agricultura, esta mantém 92,70% de área, perdendo 5,04% para as áreas sociais, e 1,22 e 1,04% para a floresta e matos, respetivamente.

Por sua vez, a floresta mantém 91,97% de área, perdendo 5,36% para as áreas sociais e 1,67% para a agricultura. Por fim, os matos são os que mais área perdem, mantendo 41,91% de área, perdendo 50,16% para a floresta, 6,59% para as áreas sociais e 1,35% para a agricultura.

“Denota-se que em Cervães as maiores perdas registam-se todas para as áreas sociais, uma vez que esta, comparativamente a Valdreu, é uma freguesia que se encontra bem localizada, na fronteira com a cidade de Braga e Barcelos, em que a oferta de emprego é maior, com melhores acessibilidades e com uma maior proximidade à sede do concelho”.

Comparação entre as duas freguesias
André Araújo olha, ainda, para a área ardida de Cervães e Valdreu e tira algumas conclusões. A primeira conclusão a retirar “é que existe uma enorme diferença no que concerne aos hectares ardidos por ano, uma vez que em Cervães, grosso modo, a escala vai até 94 hectares de área ardida e em Valdreu vai até aos 612 hectares”.

Outra conclusão a retirar é sobre aquilo que arde em cada freguesia. “Aqui também se assiste a uma disparidade enorme, uma vez que, e tendo em conta que em Valdreu, nos espaços silvestres predominam os matos, são estes que são mais fustigados pelas chamas. O contrário, e bem evidente é aquilo que se verifica em Cervães, uma vez que esta é uma área em que predomina a floresta de folhosas, resinosas e mista, logo é também aquilo que vai arder com maior enfase”.

Valdreu é preocupação
Os números apresentados pelo jovem investidor tornam evidente “a preocupação que deve ser tida em conta por parte do município em relação a Valdreu”, tornando necessário “repensar a forma como o planeamento florestal desta área deve ser mais eficaz”.

Observando o histórico do número de incêndios florestais nas freguesias de Valdreu e Cervães, verifica-se a existência de várias áreas em que a recorrência existe, demonstrando que são áreas em que o perímetro florestal se encontra sujeito e suscetível ao risco de incêndio florestal.

A freguesia de Valdreu apresenta um máximo de 9 ocorrências (incidências) em algumas das áreas ardidas, o que significa que tem o máximo de 8 recorrências nos 25 anos analisados. Por sua vez, Cervães tem um máximo de 8 incidências, o que corresponde a um valor máximo de 7 recorrências em algumas áreas da freguesia.

Biomassa
Um dos problemas do noroeste Português, e que afeta o concelho de Vila Verde, é a rápida taxa de crescimento da biomassa, que está diretamente ligada ao clima, associando a questões sociais, como o despovoamento das áreas mais rurais e montanhosas.
“Por exemplo, os terrenos que se limpam nos meses de fevereiro/março, em setembro/outubro já se encontram com uma elevada carga de combustível, suficiente para permitir alimentar e desenvolver incêndios florestais”.

Uma vez que 35% do território do concelho de Vila Verde apresenta um uso florestal, esta” deve estar devidamente ordenada e ser gerida, interligando forças e cooperação entre as entidades particulares e públicas”, sugere André Araújo.

Área ardida
Entre 1990 e 2015, arderam em Vila Verde 13579,55 hectares, sendo que 1437,18 hectares são referentes a Valdreu (10,58%) e 485,37 hectares a Cervães (3,57%). Logo, nestes 25 anos, em Valdreu ardeu o triplo do que ardeu em Cervães. Nas 33 freguesias do concelho de Vila Verde, entre 1990 e 2015, um décimo do que ardeu foi na freguesia de Valdreu. Neste mesmo período de tempo, e calculando a área ardida em função da área da freguesia, chega-se à conclusão que em Valdreu ardeu o equivalente a 86,11% da freguesia e em Cervães 50,36% da freguesia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *