CURIOSIDADES

Há um maior inimigo para o ambiente do que o dióxido de carbono

O óxido nitroso da agricultura e de outras fontes está acumular-se na atmosfera tão rapidamente que coloca a Terra no caminho de um perigoso aquecimento de 3ºC neste século, descobriu um novo estudo.

A cada ano, mais de 100 milhões de toneladas de azoto são espalhadas nas plantações na forma de fertilizante sintético. A mesma quantidade é colocada em pastagens e colheitas como estrume de gado.

Esta quantidade colossal de azoto faz com que as plantações e pastagens cresçam com mais abundância. Mas também liberta óxido nitroso (N₂O), um gás com efeito estufa.

A agricultura é a principal causa do aumento das concentrações e provavelmente permanecerá assim neste século. As emissões de N₂O da agricultura e da indústria podem ser reduzidas e devemos tomar medidas urgentes se esperamos estabilizar o clima da Terra, conclui o novo estudo publicado esta semana na revista científica Nature.

De onde vem o óxido nitroso?
Os cientistas descobriram que as emissões de N₂O de fontes naturais, como solos e oceanos, não mudaram muito nas últimas décadas. Mas as emissões de fontes humanas aumentaram exponencialmente.

As concentrações atmosféricas de N₂O atingiram 331 partes por mil milhão em 2018, 22% acima dos níveis no ano 1750, antes do início da era industrial.

A agricultura causou quase 70% das emissões globais de N₂O na década até 2016. As emissões são criadas através de processos microbianos nos solos. O uso de azoto em fertilizantes sintéticos e estrume é um dos principais impulsionadores desse processo. Outras fontes humanas de N₂O incluem a indústria química, águas residuais e a queima de combustíveis fósseis.

O N₂O é destruído na alta atmosfera, principalmente pela radiação solar. Mas os humanos estão a emitir N₂O mais rápido do que este é destruído, acumulando-se assim na atmosfera. O N₂O desgasta a camada de ozono e contribui para o aquecimento global.

Como gás com efeito estufa, o N₂O tem 300 vezes o potencial de aquecimento do dióxido de carbono (CO₂) e permanece na atmosfera, em média, durante 116 anos. É o terceiro gás com efeito de estufa mais importante depois do CO₂ (que dura até milhares de anos na atmosfera) e do metano.

O N₂O esgota a camada de ozono quando interage com o ozono na estratosfera. Outras substâncias que destroem a camada de ozono, como produtos químicos contendo cloro e bromo, foram proibidas pelo Protocolo de Montreal das Nações Unidas. O N₂O não é proibido pelo protocolo, embora o Acordo de Paris procure reduzir as suas concentrações.

O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas equacionou cenários para o futuro, delineando os diferentes caminhos que o mundo poderia seguir na redução de emissões até 2100. O novo estudo descobriu que as concentrações de N₂O começaram a exceder os níveis previstos em todos os cenários.

Os investigadores descobriram que as emissões globais de N₂O causadas pelo homem aumentaram 30% nas últimas três décadas. As emissões da agricultura vieram principalmente de fertilizantes de azoto sintético usados no Leste Asiático, Europa, Sul da Ásia e América do Norte. As emissões de África e da América do Sul são dominadas pelas emissões de estrume animal.

Qual a solução?
N₂O deve fazer parte dos esforços para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, e já há trabalho a ser feito. Desde o final dos anos 1990, por exemplo, os esforços para reduzir as emissões da indústria química têm sido bem sucedidos.

Reduzir as emissões da agricultura é mais difícil – a produção de alimentos deve ser mantida e não há alternativa simples aos fertilizantes de azoto. Mas existem algumas opções.

Na Europa, nas últimas duas décadas, as emissões de N₂O caíram com o aumento da produtividade agrícola. Isso foi amplamente alcançado através de políticas governamentais para reduzir a poluição nos cursos de água e na água potável, o que incentivou o uso mais eficiente de fertilizantes.

Outras formas de reduzir as emissões de N₂O da agricultura incluem:

-uma melhor gestão do estrume animal
-aplicação de fertilizantes de uma forma que corresponda melhor às necessidades das plantas em crescimento
-culturas alternadas para incluir aquelas que produzem o seu próprio azoto, como legumes, para reduzir a necessidade de fertilizantes
-fertilizantes de eficiência aprimorada que reduzem a produção de N₂O

ZAP // The Conversation

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *