Carlos MangasOPINIÃO

Colega Sebastião: Especial entre iguais

A ESVV abriu portas em 1986/87. Integro o seu quadro de professores desde 1987/88. Conheci todos os órgãos de gestão desde os primórdios e foi com enorme tristeza que tive a notícia que nos deixou o 1º presidente eleito dos conselhos diretivos da ESVV – El-Rei D. Sebastião – como eu carinhosamente gostava de o tratar.

O desaparecido em Alcácer-Quibir ficou com o cognome de “O Desejado” por nunca aparecido. O nosso, quando foi necessário e desejado, apareceu a liderar um grupo de docentes que entendia que a ESVV deveria levar um rumo diferente do preconizado por quem a dirigia, à época. Nunca é fácil concorrer contra quem está no poder e menos ainda quando se tem um familiar direto que integra a equipa dos assistentes técnicos/operacionais na escola. Mas o COLEGA Sebastião aceitou fazê-lo com espírito de missão, apresentou equipa, concorreu e… ganhou as eleições. Não foi fácil e o resultado final mostrou uma escola dividida que ele se preocupou em unir em torno do que realmente importa – o sucesso dos alunos. Conseguiu-o graças ao seu humanismo e ponderação constantes que o levaram inclusive a colocar-me no devido lugar na hierarquia da Educação Física – depois da colega Luísa Araújo. À hipótese aventada de eu representar o grupo no conselho pedagógico (CP), chamou-me e disse: Mangas, entendo que deve ser a Luísa porque tu ainda és muito impulsivo. Como ele me conhecia bem e sabia o que a escola precisava. Agradeci a conversa – uma das muitas – em que com ele fui aprendendo na arte da docência e a perguntar primeiro, ouvir – o que em mim nunca foi fácil – e decidir depois. Docente de filosofia, as suas intervenções eram sempre pensadas e pausadas, nunca precisando de levantar a voz. Dava aos interlocutores – colegas ou alunos – a oportunidade de exprimirem o seu ponto de vista e depois com a sua capacidade argumentativa justificava as assertivas decisões ou, se entendia justas as pretensões, anuía ao solicitado.

Quando da sua prematura partida coloquei nas redes sociais a notícia, por forma a que muitos ex-alunos tomassem conhecimento e para que os atuais conhecessem melhor a história da nossa escola, da escola dos seus pais e tios e da importância que alguns COLEGAS tiveram no seu crescimento. Mais de meia centena de comentários ao post definem, de forma exemplar, as suas principais caraterísticas: caráter, humanismo, serenidade, dedicação, simpatia, lucidez. Uma ex-aluna escreveu o que lhe ouviu, quando estava a ver a nota de um exame, igual à que ele lhe tinha atribuído no final do período “sabia que a Maria João não me ia desiludir”. Para ele cada aluno era uno, conhecia-os pelo nome e sabia o seu valor.

Deixou-nos, pois, um humanista de excelência que tinha sempre uma palavra amiga para colegas, assistentes ou alunos e que deixa um vazio enorme na família e em todos quantos com ele privaram e aprenderam. Despeço-me como ele gostava de nos tratar “até um destes dias, COLEGA”.

Ps. O título foi composto com ajuda de uma referência feita pelo colega Jorge Macedo.

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