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Hélder Cação, o designer vilaverdense reconhecido pela Famel (com vídeo)

Hélder Cação é natural de Valões, uma das freguesias que compõem a União de Freguesias do Vade. Recentemente, a marca de motos Famel tornou público um projeto desenvolvido pelo vilaverdense para a marca que mais não é do que uma mota elétrica. Na forja está uma linha de talheres da marca Cutipol para o mercado chinês. Em Verde Verde, o seu ‘lápis’ ficou registado no Baloiço do Oural e nas máscaras comunitárias entregues à população do Vade.

Ainda a viver em Vila Verde, divide a sua vida entre o concelho e Guimarães. No entanto, o percurso académico já tinha andado por outros lados. “Fui para Braga porque optei por artes visuais que não existiam cá, mais tarde ingressei numa licenciatura em Design de Produto na UMinho e três anos mais tarde num mestrado em Design pela Universidade de Aveiro”.

Apesar disso, “sempre estive muito perto de Vila Verde e mantenho esta rotina até porque contínuo a viver em Vila Verde apesar de trabalhar fora, em Guimarães e faço a ponte entre os dois locais”.

Antes de chegar ao design de produto, os seus interesses estavam concentrados noutros aspetos: “até ao nono já me interessava pelo desenho, não tanto de projeto, mas mais artístico, representação de pessoas, desenhar rostos. A partir do nono ano comecei a ter gosto pelo desenho de projeto, a pensar em ideias e a transpô-las para o papel para que seja possível comunicar com outra pessoa e fazer um projeto em cima disso”.

Nada, ou quase nada, na família o faria enveredar por esta via: “na realidade, do ponto de vista familiar só havia uma pessoa, do lado do meu pai, que me poderia inspirar, mas no global não vejo que a minha família tenha sido a razão pela qual eu ingressei pela componente das artes ou design”.

Gosto pessoal
O consumo deste género de arte aconteceu de “forma natural” bem como seguir este trajeto em termos profissionais. “Acredito que haja alguma vocação, mas é mais trabalho e desenvolvimento pessoal. É sermos pró-ativos para perceber que para chegar a um determinado sítio é preciso trabalhar e desenvolver algumas competências”.

Se houve colegas “fascinados” pela BD, Hélder era mais “desenhar automóveis e motociclos e rostos, gostava de observar pessoas e desenhar os seus rostos”.

A entrada na universidade foi “um choque” porque “temos uma visão muito fora da realidade. A Universidade é uma preparação para a vida pessoal e para a vida do trabalho, achei que iria continuar a desenvolver mais este lado artístico em que o saber desenhar chegava, mas não, para esta profissão temos que saber desenhar, mas saber desenhar para projetar, para resolver problemas dos clientes ou criar novas oportunidades de negócio”.

Empresa em Guimarães
Após ter terminado o projeto de mestrado surgiram algumas propostas, mas “eu sempre estive inclinado para começar algo próprio, ou seja, mal larguei a universidade tive mais dois colegas que estavam alinhados nessa mesma ideia e nesse momento, achamos que era a altura perfeita para iniciarmos algo. Não tínhamos nada a perder. Não sentimos muito aquela questão de procurar trabalho, de enviar currículos, procuramos trabalho, mas no contexto da empresa em si”.

O ‘Estúdio 812 Creative Design’ surgiu em Guimarães pela proximidade que os três sócios tinham com o Instituto de Design de Guimarães onde “nos foi facilitada colaboração com eles, tínhamos uma relação estreita com os diretores, com os parceiros e para nós fazíamos sentido que fosse lá. Queríamos estar próximos das grandes indústrias, portanto, seria em Braga ou Guimarães. Hoje, percebemos que até podemos estar deslocados e entregar na mesma as soluções aos clientes”.

A fase inicial não foi fácil e Hélder explicar o porquê. “Seria sempre muito fácil arranjar ‘desculpas’ por não termos, numa fase inicial, encontrado clientes. Fizemos o que toda a gente faria que foi o contato em número.
Rapidamente percebemos que o contato em número não dá em grande coisa. O que fizemos a determinada altura foi fazer uma leitura concreta de determinadas empresas, estabelecemos o contato para o contexto daquela empresa, das pessoas que lá trabalham e foi aí que conseguimos estabelecer parcerias e projetos”.

Resistência das empresas
“Infelizmente, há ainda resistência por parte das empresas”, reconhece o designer vilaverdense. “Quando apresentamos uma solução que vai trazer retorno, por vezes, é difícil imaginar que é investimento que o retorno não vai ser a curto prazo. O design ainda é visto como ‘desenhar ‘bonecos’ quando o design é projeto, é resolver problemas”.

Futuro
O designer tem uma visão daquilo que acredita dever ser o design: “um mediador cultural, industrial, comercial, etc. é um agente de transformação positivo e deve ser utilizado em prol desta evolução de que tanto precisamos, principalmente a nível nacional”.

Por isso, “temos que passar de um país de produção para um país de desenvolvimento e produção, ou seja, entregar ao exterior soluções de maior valor acrescentado”.

Consciente de que o povo está mais sensibilizado para a questão do design, ainda assim, Hélder Cação reconhece que, ainda, há dois lados: “pessoas e empresas que não acreditam que o design é um agente de transformação, isto é, continua a ser desenhar um cartazes ou uns produtos sem impacto, no entanto, nós acreditamos que o design tem esse poder e é nesse sentido que nós trabalhamos todos os dias”.

“Se não houvesse designers e engenheiros a questionar, se calhar ainda teríamos telemóveis com teclado, se seria o fim do mundo, provavelmente não, mas eu acredito que estamos bem assim”, diz o vilaverdense para quem “a criatividade não tem hora e a estratégia também não. Criatividade sem estratégia acaba por ser um conceito vazio, fica no domínio das ideias”.

Famel e Cutipol
“Há dois projetos que me marcaram mais: o desenvolvimento do projeto com a Famel, a ZX01, que foi um desafio porque estávamos a questionar algo que foi desenvolvido ao longo de décadas e é sempre crítico desenvolvermos algo em cima de uma marca que foi tão icónica. O papel do designer é esse mesmo, questionar e depois o maior desafio foi pegar num ícone e saber que, provavelmente, 50% dos clientes iriam estar satisfeitos com a solução final e outros 50% não.

O objetivo foi pensar no projeto para o futuro, não ficar preso ao passado, desenvolver uma hipótese e o projeto da Famel ZX01 foi isso mesmo.

Eu precisava de desenvolver, por um lado, uma linha de investigação pelo lado do design e por outro, tinha este gosto pelo design de artefactos de mobilidade e acabei por contatar a Famel, sem conhecer ninguém na marca. Fui recebido pelo atual proprietário, Joel Sousa, acabamos por trocar umas ideias e eu, rapidamente passei a minha mensagem. Achava que a Famel do futuro deveria ser elétrica, ele concordou e começamos a colaborar nesse processo.

O projeto foi começado em 2016 e foi terminado nas primeiras semanas de 2018. Houve um conjunto de fatores que tiveram que ser tidos em conta, antes de começar a desenhar, inerentes a um projeto de investigação, como o estado da arte, a história da empresa, a história da indústria, qual o público alvo, ou potencial público alvo, etc.

Após ter terminado o projeto com a Famel e por ter abraçado outros projetos, não teve grande divulgação até por estratégia da própria marca, mas a visibilidade que os veículos elétricos começaram a ter, trouxe de novo a ZX01 para a ribalta. Até agora estivemos a desenvolver o projeto, discretamente, até para não aparecerem outras ideias no mercado.

O projeto é uma hipótese para a marca, que tem vindo a trabalhar aquele conceito e a fazer aquilo que acha ser o mais correto para a própria marca. Mais do que a ZX01, redesenhar a Famel foi pensar mais na marca para o futuro”
No contexto do nosso estúdio temos um projeto que poderá ter um maior impacto que é com a Cutipol. Desenvolvemos um projeto que é uma nova linha de talhares para o mercado asiático que pode ter algum impacto pelo lado do design”.

Máscaras do Vade e Baloiço do Oural
Hélder Cação diz ter tido “uma participação mínima” na elaboração das máscaras comunitárias que a União de Freguesias do Vade entregou à população, “se tivermos em conta todo o trabalho de costurar, mas sim fiz parte da grande equipa que desenvolver as máscaras comunitárias entregues à população do Vade”.

No caso do baloiço do Oural, acabou por ser “o culminar de algumas ideias que andávamos a partilhar com o presidente da junta da União de Freguesias, achamos que faria sentido desenvolver alguma coisa que tivesse impacto positivo na vida das pessoas, principalmente nesta altura. O baloiço acabou por ser a solução ideal porque temos excelentes paisagens na zona do Minho e aquele era um local que tinha de ser explorado”.

 

http://https://youtu.be/JTMGzqlKoLw

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