Estudos revelam que há partes do Salvator Mundi que Da Vinci não pintou
Dois novos estudos sobre o Salvator Mundi, pintura atribuída a Leonardo da Vinci, sugerem que originalmente foram apenas criados a cabeça e os ombros e que as mãos e os braços só foram adicionados mais tarde.
O elemento mais característico do Salvator Mundi, a imagem de Cristo como Salvador do Mundo, é a mão direita de Cristo levantada em bênção. A mão esquerda segura uma esfera completa, que estava na moda no nordeste da Itália desde 1500.
De acordo com o The Art Newspaper, especialistas do Museu do Louvre fizeram um exame à pintura, quando o Ministério da Cultura da Arábia Saudita permitiu uma análise científica detalhada em 2018.
Um cientista da computação e uma historiadora da arte fizeram outro estudo, que acaba de ser aceite para publicação na revista Leonardo, do MIT Press, cujas conclusões vão ainda mais longe: o braço e a mão não foram pintados por da Vinci.
Os resultados da análise do Louvre não foram objeto de escrutínio público: aparecem num livro do final de 2019, cuja publicação foi cancelada quando o empréstimo do quadro à exposição comemorativa do 500.º aniversário da morte de Leonardo foi rejeitado no museu parisiense.
O portal revelou a existência de exemplares perdidos no ano passado e já teve acesso a um deles. No prefácio do livro, o presidente do Louvre, Jean-Luc Martinez, apoia totalmente a atribuição a Leonardo.
Dianne Modestini, uma restauradora que trabalhou no Salvator Mundi antes da sua venda na Christie’s, sugere que a cabeça e a mão pertencem ao mesmo estágio evolutivo da pintura. No entanto, os curadores e restauradores do Louvre – Vincent Delieuvin, Myriam Eveno e Elisabeth Ravaud – parecem contradizer o ponto de vista de Modestini.
Os curadores afirmam que, como a parte superior da mão é pintada diretamente sobre o fundo preto, ao contrário do resto da pintura, isso “prova que Leonardo não a previu no início da execução pictórica”. Esta área mais escura atrás da mão foi apresentada no livro de Ben Lewis “O Último Leonardo” em 2019.
A análise do Louvre de 2018 conclui que a pintura evoluiu lentamente e que Leonardo da Vinci pode ter adicionado o braço e a mão após algum tempo.
Os curadores acreditam que esta modificação “substancial” ocorreu suficientemente cedo no processo e que o pintor aplicou mais tarde outras camadas ao fundo preto.
O livro do Louvre também levanta questões sobre a mão esquerda que segura o orbe. O documento refuta a afirmação de que o orbe é feito de cristal de rocha, o que, para alguns, é um elemento-chave na atribuição a Leonardo. Para a equipa do Louvre, as pequenas formas circulares na parte inferior do orbe representam as bolhas de ar presas no vidro.
Além disso, consideram que o globo tem um contorno duplo e que os dedos da mão estavam originalmente numa posição mais elevada.
Em paralelo à análise do Louvre, o cientista da computação Steven Frank e a historiadora de arte Andrea Frank, que usam redes neurais para lançar luz sobre falsificações e atribuições polémicas, decidiram voltar a sua atenção para o Salvator Mundi.
Estes investigadores concluíram que era altamente provável que a cabeça e a parte superior da figura tivessem sido pintadas por Da Vinci. No entanto, o artista italiano não teria executado a mão, o braço, nem a mão esquerda com o orbe.
Além disso, o especialista em da Vinci Frank Zöllner, propôs que o artista poderia ter começado a compor a pintura e depois perdido interesse. Segundo Zöllner, isto é apoiado pelo facto de que o Salvator Mundi não tem barba – ao contrário de todas as cópias conhecidas – e que as dobras das cortinas estão mal delineadas. Assim, a pintura terá sido concluída por um dos alunos ou colaboradores de Leonardo.
Maria Campos, ZAP //