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“Muitas pessoas que estão no Governo deveriam fazer uma formação numa freguesia rural”

Está há 16 anos ligado à Junta da Loureira. Há 12 foi eleito presidente por um movimento independente que ainda hoje perdura. “Orgulho-me de nunca nos termos desviado do nosso caminho porque isso é mais difícil manter do que realizar uma obra”, refere Pedro Dias que reconhece que o segredo do “sucesso passou pela equipa criada, pela adesão da população e pelo apoio do Município”.

Ainda se lembra como foi feito o convite para ser candidato à junta há 16 anos atrás?
Eu entreguei um projeto, depois de um repto, elaborado por mim e por um colega que, infelizmente já partiu, o Filipe, tentando dinamizar um pouco a freguesia. Quem estava na junta, na altura, não via com bons olhos essa integração e lançamos um projeto que depois foi alastrado a várias pessoas. Foi há cerca de 16 anos atrás.

E como foram essas eleições?
Concorremos contra cinco listas, ficamos em segundo lugar e posteriormente integramos os dois a Assembleia de Freguesia, tivemos quatro anos lá e posteriormente alargamos o movimento a outras pessoas, tentamos fazer uma união de esforços para bem da freguesia. Quatro anos depois, concorreram três listas e nós vencemos. A partir daí foi o que se tem visto…

A questão de ser manter como uma candidatura independente deveu-se a quê?
No início, como éramos os dois elementos do PSD, tentamos unir esforços e revitalizar a lista do partido na freguesia que estava no poder há mais de 20 anos, mas não nos foi possível porque não chegamos a consenso. Quatro anos após termos sido eleitos para a Assembleia de Freguesia, a lista do PSD “não nos queria” por termos concorrido contra eles e nós reforçamos o movimento independente com a união de esforços de quase todos os outros partidos e foi aí que se deu o sucesso.

Portanto, um movimento apartidário.
Sim, nós somos um movimento apartidário na freguesia, mas temos pessoas de vários quadrantes políticos, do PS, alguns do PCP, temos do PSD, alguns dos CDS e tentamos conjugar esforços com todos para fazer algo pela nossa freguesia. Portanto, o nosso partido passou a ser a nossa freguesia e o segredo do sucesso foi essa base. Foi, também, a constituição da lista e o seu reforço. Fomos nós os dois que delineamos a estratégia e a lista, modéstia à parte, foi muito bem escolhida. Fomos nós que pensamos na campanha eleitoral e no programa e muita gente, a nível concelhio, pensou que estávamos a ter apoios de partidos para a campanha, mas não, isto foi tudo fruto do nosso trabalho.

Nestes 12 anos, consegue definir dois pontos altos para a freguesia?
Felizmente, existem muitos pontos altos. Foram 12 anos vividos intensamente, quer emocionalmente quer em termos de trabalho. Nós não somos profissionais da política e isto desgasta porque temos vidas profissionais e familiares. Quando temos problemas quer numa quer noutra temos, na mesma, que andar com o barco para a frente. Houve vários momentos: o primeiro, termos conseguido a vitória contra o poder instalado tanto no concelho como na freguesia, o PSD não acreditou nesta gente trabalhadora. Depois poderia enumerar várias obras, mas o ponto chave foi a equipa que existiu na junta e na Assembleia, o esforço de toda a população na participação nas atividades e na ajuda na realização das obras. Conseguimos agregar o movimento associativo que cresceu muito na freguesia, seja através da promoção de atividades seja na criação de novas associações. Com o passar dos anos, e após o primeiro mandato, o apoio do Município de Viola Verde, também foi importante.

Essa mudança foi crucial?
Uma freguesia que tem um FEF (Fundo de Equilíbrio Financeiro) que é o mais baixo do concelho para fazer estas obras e todos os eventos que realizamos não é fácil. Se não tivéssemos este apoio do Município acho que teria sido muito mais complicado. Portanto, para mim, esses foram os pontos mais fulcrais destes 12 anos. As obras são fruto destas sinergias que foram construídas.
E, já agora, dois pontos baixos.
Em termos de obras, estão a ser concretizadas. Se olharmos o primeiro manifesto e os seguintes verificamos que tudo ou está a ser concluído neste momento ou já foi. Acho que as obras mais importantes foram realizadas ou estão a ser. Há outras que já estão planeadas e com financiamento que ficam para o futuro, portanto, não se fecha aqui um ciclo, tem que continuar e a freguesia tem que continuar a desenvolver-se.
Como negativo foi a perca de pessoas que tivemos quer a nível da Junta com a partida do Filipe que deixou um vazio imenso na equipa, não foi fácil e a nível familiar foi a partida do meu pai onde ponderei, no início desta caminhada, abandonar.

A freguesia da Loureira tem como característica estar dividida, digamos, numa parte mais urbana na zona da estrada da estrada municipal e uma mais rural na zona do rio. É difícil fazer a gestão destas duas vertentes?
Existia um estigma que era: a parte de baixo e a parte de cima da freguesia e isto verificava-se quando andávamos na escola. Nós tentamos esbater este estigma, olhando para a Loureira como um todo. Temos que ter a noção que há uma parte mais urbana e uma parte mais rural, mas o investimento realizado na freguesia não levou isso em conta. Tentamos sempre desenvolver a freguesia num todo e juntar as pessoas, porque isso é o mais importante, de todos os lados. Nunca deixamos ninguém para trás.
Temos grandes investimentos na parte de baixo, e se calhar, menos na parte de cima, mas isso é pacífico. Por exemplo, na parte mais junto ao rio não é possível construir, neste momento, porque há uma série de bloqueios no PDM. A Loureira deve crescer, mas sempre de forma sustentada. Quer a freguesia quer o Município devem tirar partido dessa grande riqueza que é o rio Homem. Esse, também, foi o nosso desígnio, durante estes anos: crescer, lentamente, nas zonas ribeirinhas (Ponte Nova, Vau e Barroca) acrescentando, a cada ano, algo a essas zonas.

Hoje, a Ponte Nova é uma referência da Loureira.
É um dos ex-líbris do concelho, é da Loureira, mas tem um potencial enorme para Vila Verde. Um dos nossos objetivos era o crescimento da zona do Vau, mas, por diversos motivos, nomeadamente da pandemia não foi possível. Esse deve ser um dos propósitos para o futuro fazendo o que foi feito na Ponte Nova, não alterando as suas caraterísticas de raiz. Dar acolhimento para quem nos visita até porque eu não sou apologista de mega-investimentos. A Ponte Nova, para mim, está magnífica, é frequentada por gente do Porto e de Braga e foi uma obra delineada entre presidente da câmara e presidente da junta, não houve nada de extraordinário e ficou magnífico.

Curiosamente, o Pedro Dias foi eleito presidente da Junta da Loureira quando António Vilela foi eleito presidente da Câmara. Como foi esse relacionamento?
Os primeiros anos do primeiro mandato não foram fáceis porque o facto de termos concorrido contra o PSD causou alguma desconfiança, mas eu acho que o António Vilela e os seus Vereadores fizeram parte do sucesso desta Junta, e a freguesia deve muito ao António Vilela.
Estamos no espaço que foi requalificado, a sede da junta, e no início pedi ajuda à câmara para esta requalificação, o presidente dizia que não tinha dinheiro, eu disse que íamos na mesma partir para a requalificação. Com ajuda da população e de andarmos aqui a trabalhar fizemos a obra. Acho que esta requalificação foi o ponto de viragem no apoio porque ele sentiu que havia gente trabalhadora, tanto na junta como na população. Foi uma pessoa que trabalhou, que se empenhou e ajudou em muito a freguesia do ponto de vista institucional. Eu defendo que se as juntas e a população não mostram empenho, claro que é mais difícil captar o apoio do município e de outras instituições.
Nós temos obras que se estão a realizar agora que já poderiam ter sido feitas há mais anos. Houve entraves financeiros e acordos com proprietários que não foram possíveis nessa altura, mas a câmara nunca se mostrou fora deste processo.

Com o poder central, esse relacionamento foi mais difícil? Como é que o Governo olha para uma junta de freguesia?
Muitos governantes desconhecem a realidade de uma junta de freguesia rural. Há ideia que existem muitas freguesias, mas não é verdade. Elas existem para apoiarem a população, somos os primeiros a receber as queixas. Muitas pessoas que estão no Governo deveriam fazer uma formação numa freguesia rural, para que com as ajudas e o dinheiro que nós temos fazerem o trabalho que nós fazemos. Tenho a certeza que dariam mais valor ao que fazemos e à gestão dos dinheiros públicos.

Há um desconhecimento muito grande sobre essa realidade?
Sem dúvida. Mas o problema é que o Governo se fecha nos gabinetes, decide sem conhecer a realidade. Não percebem que a estrada nacional foi construída há muitos anos sem ter núcleo urbano e não entendem que os núcleos urbanos absorveram essas estradas, ora quando as estradas não passam para o Município, como é o nosso caso, a estrada fica ‘pendurada’. Na conceção deles, uma estrada nacional não tem que ter passeios, só valetas e margem de segurança para os automobilistas. Para eles, os peões não andam nas estradas nacionais, só que essa metodologia tem que mudar porque não faz sentido e é desconhecer a realidade.
Eu defendi que a Loureira não deveria ser aglutinada ao núcleo urbano de Vila Verde até porque não existiam critérios para o futuro. A Loureira é a prova que, mesmo com um FEF baixo, é possível desenvolver a freguesia. Têm que ter bairrismo e puxar o povo que unido é que faz as obras. O poder político, a nível nacional, deveria ouvir mais as pessoas do mundo rural, depois queixam-se que não vive gente no interior, mas as melhores vias de comunicação estão onde? Os melhores apoios estão aqui? Depois dão-se incentivos para as pessoas irem para o interior, não faz sentido e é um paradoxo.

A seis meses do final do mandato, o que gostaria de deixar ficar pronto?
Eu acho que nestes 12 anos conseguimos realizar muitas obras fruto das sinergias de que já falei. No entanto, gostaria de ver a questão dos passeios na estrada nacional resolvida. Sei que foi feito o levantamento, mas o projeto ainda não nos foi enviado, só acordam quando tocamos o sininho da preocupação. Se não ficar concluída, pelo menos, que comecem as obras.
Nós crescemos no apoio social, quer na recolha de alimentos ou de brinquedos, no apoio aos idosos, às famílias desfavorecidas não só da freguesia e isso é muito importante porque não nos fechamos na nossa freguesia.
A nível da educação, requalificamos a antiga escola primária para jardim de infância, passando de uma sala para duas, estamos a requalificar o espaço, nesta altura. Apoiamos as nossas crianças no Centro Escolar de Vila Verde e na EB 2/3 e nas pausas letivas. Cedemos internet e computadores com esta pandemia.

Como está a obra da estrada que, digamos, atravessa a freguesia toda pelo seu interior?
Na questão da mobilidade, nos primeiros anos, conseguimos pavimentar algumas ruas da freguesia e numa segunda fase, começamos a fazer alargamentos. A estrada municipal que atravessa a freguesia desde a Ponte Nova até ao limite com Turiz, que muita gente dizia ser impossível alargar e pavimentar, é um sonho que se está a tornar uma realidade. Nós conseguimos com os proprietários, que tiveram um grande sentido de responsabilidade e partilha, a cedência gratuita dos terrenos e com a ajuda do Município realizamos os muros.
Não foi fácil. Agora estamos a proceder a um alargamento muito complexo e, posteriormente, o Município já entregou a obra, serão construídos os passeios e irá ser feita a pavimentação. É para ficar pronta antes do final do mandato.
Neste alargamento temos um amargo com a paróquia. Requalificaram uma casa e agora o alargamento não é possível naquele local. Acho que foi um erro, nós alertamos na altura, fomos vistos como pessoas muito à frente e que não iriamos concluir os nossos objetivos. A ideia era dignificar o espaço com a construção de uma avenida até à igreja, potencializando a igreja e o cruzeiro, mas não nos foi possível e agora deixa-nos um amargo. Não foi por falta de empenho nosso, foi porque quem estava à frente dos destinos da paróquia não quis. Hoje, se calhar, estão arrependidos.

E quanto aos serviços básicos?
Em termos de saneamento, faltam duas ruas, temos uma taxa de 93% de cobertura. Água também temos uma cobertura máxima; fibra ótica temos duas operadoras, uma delas no território todo; gás natural foi colocado na rua principal que está a ser requalificada e estão agora a fazer as ruas paralelas à estrada. Acho que em termos de estruturas básicas, estamos bem.

Qual é o futuro do Pedro Dias?
Antes de mais devo dizer-lhe que me orgulho de nunca nos termos desviado do nosso caminho porque isso é mais difícil manter do que realizar uma obra. As pressões políticas, as tentativas de desviar do rumo, é preciso ser firmes e saber dizer um sim ou um não.
Daqui a seis meses não sei o que acontecerá, não tenho projetos em mente. Estou disponível, e já transmiti na junta de freguesia, para ajudar quem me ajudou e estou disponível para pertencer à Assembleia de Freguesia, quase como um quarto elemento da junta, mas sem cargo atribuído. É contra os meus princípios passar de primeiro para segundo, não vejo isso com bons olhos e é um contorno à lei.

Mas o Movimento não vai acabar…
Espero que não. Acho que faz tudo o sentido que continue. Existe um conjunto de obras que estão a ser concluídas, como por exemplo, a requalificação da sede da junta, que já fizemos o desaterro, mas que a pandemia atrasou e não vai estar pronta a tempo do final do mandato. Gostava de deixar a estrutura feita, mas mesmo não se concluindo fisicamente, o financiamento vai ficar para concluir as obras que faltarem.
Não irei sair com as contas marteladas ou com saldo negativo. Todas as obras têm sustentabilidade financeira. Quem vier a seguir terá dinheiro para concluir as obras e ainda fazer mais obras. Já agora, deve continuar a arranjar atividades para usufruirmos dos espaços que temos. As finanças estão boas. Por isso, este caminho não pode ficar por aqui, logo, o movimento tem motivos para continuar.

Festa do Emigrante
“Uma das coisas que queria fazer neste mandato era 10 festivais do Emigrante e não sei se vamos conseguir. Paramos no nove por causa da pandemia. Queremos fazer uma festa maior mais alargada, dar um mimo a quem ajuda, são 40 pessoas que estão ali cinco dias a ajudar. Somos criticados por fazermos festas, mas nenhum festival deu prejuízo, deu sempre receita para a freguesia e isso foi possível graças a 40 pessoas que trabalham lá cinco dias e são depois acusadas que comem e bebem. Alguns profetas de desgraça facebookianos precisam saber que nenhum festival deu prejuízo e ficou tudo liquidado.
É bom não esquecer que lançamos o repto do festival para patrocinar obras da freguesia e numa primeira fase foi para a casa mortuária, uma das necessidades da freguesia. Não só cumprimos o projeto que muitos diziam ser impossível concretizar como acrescentamos um salão, crescemos mais dois metros à casa mortuária e a obra foi paga. É verdade que houve donativos, um subsídio do Município e muitos de nós fomos para lá trabalhar, mas a grande maioria da verba veio do Festival”.

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