“Cada pessoa pode rever-se naquilo que escrevo”
Álvaro Oliveira, mais conhecido por ‘Né’, acabou de editar o seu segundo livro de poesia. ‘Os Meus Passos’, deixou de ser tão familiar para passar a ser mais ‘autobiográfica’. Esta publicação ainda está ‘quente’, mas um terceiro livro está quase pronto a editar. Publicação que só deverá acontecer daqui a dois anos. Até lá, a promessa é que “toda a gente se vai rever nestes poemas”.
Este é o segundo livro intitulado ‘Os Meus Passos’. Como é que surgiu a vontade de escrever?
É uma vontade antiga, já tem muitos anos, o publicar é que é recente. Eu escrever já escrevo desde os 25 anos. Comecei a escrever e a guardar o que escrevia até que decidi lançar o primeiro livro. Do primeiro ao segundo livro foram dois anos e agora, esperemos, lançar o próximo daqui a dois anos.
Porquê é que só surgiu essa vontade de escrever aos 25 anos?
Se calhar, fui fazer os estudos noturnos porque só estudei até ao 6º ano, tinha, na altura, 13 anos e depois acabei à noite. Como era bom a português e gostava de ler e da leitura, resolvi avançar para a escrita. Escrevi um, dois, três poemas, em qualquer hora e em qualquer sítio até em toalhas de mesa de café. Fui guardando esses escritos e depois ia mostrando a algumas pessoas que gostavam. Um dos nossos males é que muitas vezes não mostramos aquilo que escrevemos e vamos guardando. Eu cheguei ao ponto de querer editar aquilo que escrevia. Escrevo um pouco sobre os problemas da vida, a amizade, o mundo, um pouco de tudo.
Só escreve poesia?
Sim, só poesia que é autobiográfica. No fundo é a minha vida resumida em poesia.
Portanto, as vivências que vai tendo vai transformando em poemas…
Exatamente, abordando, também, temas da atualidade como a pandemia, a liberdade, a inimizade.
Nota diferenças entre o primeiro e o segundo livro?
Noto. O primeiro é um livro mais familiar, uma poesia mais dedicada á família, ao meu problema de saúde que me afeta há onze anos e o segundo é uma poesia mais autobiográfica, mais dedicada a vários temas.
Estava a dizer que escreve um qualquer sítio, como é que isso se processa?
Escrevo em qualquer sítio desde que tenha inspiração porque nem sempre temos inspiração e por isso, não estamos sempre a escrever. Mas quando a inspiração surge temos que aproveitar o momento e é isso que faço. Os primeiros poemas, lembro-me, foram escritos em caixas de cartão quando trabalhava na Makro, em Braga, e rasgava pedaços de cartão para escrever poemas. Ia ao restaurante almoçar e escrevia na toalha de papel da mesa. Os primeiros foram muito assim. Agora é mais requintado, é no telemóvel ou no computador.
Tem algum ritual de escrita?
Não tenho, é conforme vai surgindo a inspiração e há dias em que estou mais inspirado e outros não. Mas escrevo muitas vezes e é por causa disso que já tenho, quase, outro livro preparado para lançar daqui a dois anos.
Porque é que decidiu mostrar os seus poemas às pessoas? O que acha é que as pessoas podem aprender com o que escreve?
Segundo a crítica, e aquilo que os prefaciadores dizem tanto no primeiro como no segundo livros dizem, é que cada pessoa se revê na minha poesia, revê-se a si própria naquilo que eu escrevo. Se pudermos dar um pouco de nós aos outros é importante, no fundo é um testemunho que deixo para as gerações futuras, é aquilo que se passa na atualidade fica registado como, por exemplo, o amor à terra porque tenho poemas dedicados a Vila Verde, a Barbudo.
O Álvaro é natural de Vila Verde…
Sim sou e vivi aqui toda a minha vida onde exerci vários cargos associativos, onde pertenci a várias associações locais, regionais e até nacionais…
Foi presidente da junta…
Fui presidente da junta, fui presidente da Assembleia de Freguesia de Vila Verde e Barbudo, fui secretário da junta, sou chefe dos escuteiros, fui chefe de núcleo e regional adjunto. Fui presidente da associação portuguesa de doentes de Parkinson da delegação de Braga. Sou sócio fundador do museu do brinquedo, fui secretário relator dos Bombeiros de Vila Verde e mais alguns.
Hoje em dia, como é a vida do Álvaro Oliveira?
Hoje estou afastado da vida profissional, mas mantenho-me no escutismo, que é uma escola de vida da qual já faço parte há 39 anos e da qual me orgulho pertencer, é o que ainda me faz sentir ativo.
A vida escutista está repercutida nos poemas que escreve?
Em certa parte, sim. Quando falo em poemas de aventura, ou de noite e de mar, da vida ao livre, vou beber um pouco do escutismo.
Esse terceiro livro que diz já estar quase pronto é o seguimento dos outros ou é diferente?
Eu acho que é diferente. Não estou a projetar tanto o eu, mas estou a projetar o mundo em si. Não falo tanto de mim como falo nos dois anteriores. No fundo, falo da maneira como vejo o mundo na atualidade.
Nunca teve desejo de escrever prosa?
A única prosa que tenho desejo de escrever é a minha biografia e confesso que já escrevi cerca de 50 páginas, mas até terminar ainda tenho um longo percurso a fazer.
E porquê uma autobiografia?
Se calhar, abri o apetite quando fui fazer o 12º ano, no âmbito das Novas Oportunidades, e havia um projeto que era escrever a minha vida e a partir daí nasceu essa ideia. No fundo, dar testemunho aos jovens que podem ser aquilo que quiserem se tiverem força de vontade e nunca desistirem dos sonhos.
As pessoas podem encontrar ‘Os Meus Passos’ onde?
Neste momento, só eu é que o tenho. Mas vão estar à venda no posto dos CTT em Vila Verde e numa livraria com quem estou a fazer contatos para o ter à venda. O livro custa 10 euros e, atualmente, há muita gente a pedi-lo via Facebook, onde sou uma voz ativa, de vários pontos do país e até do Brasil, de França, Inglaterra. Eu envio à cobrança.
A ‘promessa’ que deixa a quem ler o livro é que poderão rever-se em muitos dos poemas
Diria que em todos… aquilo que se passa comigo passa-se com muitas pessoas, embora, nem toda a gente goste de ler poesia porque é preciso ler com sentimento para se perceberem as palavras do poeta. Portanto, eu espero que as pessoas se revejam em todos os poemas que eu escrevo.
Os meus dez primeiros poemas foram publicados na antologia dos jovens poetas do baixo Minho em 2000, apresentado no auditório do IPJ…
E que poemas eram esses?
Cada candidato podia submeter 10 poemas, mas depois só foram publicados um ou dois, os meus foram os dez. E eram poemas de paixões vividas, coisa que hoje não acontece, mas naquele tempo foi praticamente sobre isso. Passei dos poemas de amor para poemas da vida e para a vida.
Pandemia ajudou ou não a escrever mais?
Ajudou porque estive mais tempo em casa, deu para perceber e entender o mundo de outra forma que não entendia até aqui. E no futuro livro isso será visível. Nós víamos o mundo de uma forma e agora entendemo-lo de outra. Se calhar, certas amizades que eu pensava que eram verdadeiras, hoje já não penso nisso. A pandemia ajudou a ver a amizade, mas também o egoísmo.
O livro tem o prefácio de um professor da Lixa. Como chegou até ele?
O primeiro prefácio foi do Dr. Álvaro Santos de quem sou muito amigo, há vários anos e o segundo, foi do Jorge Pimentel, um professor, natural de Barbudo, mas vive em Fafe e foi diretor da escola secundária da Lixa e Felgueiras onde eu, no primeiro livro, fui lá fazer a apresentação. Nessa altura, pedi-lhe que fosse o prefaciador deste segundo livro, ele aceitou e eu fiquei muito honrado, apesar de ser um amigo, ser da terra, é muito conceituado no meio.
Essa é uma preocupação de escolher pessoas de Vila Verde para o prefácio do livro? No terceiro volume também vai ser assim?
No terceiro livro, já está prometido, vai ser, também, uma pessoa de Vila Verde que é o professor Nídio Silva. Eu faço questão que seja um amigo, que me conheça e entenda aquilo que eu escrevo.
Aproveitando o facto de ter concluído o 12º ano já tarde, que mensagem é possível deixar ficar às pessoas?
Acima de tudo que não desistam dos seus sonhos. Costumo usar uma frase, ‘enquanto houver sonhos, há vida para viver’, e no fundo é isto. Há muita gente que tem poemas, como eu tinha, guardados na gaveta, e não têm coragem para os lançar, certamente, daqui a algum tempo vamos ouvir falar de outra pessoa de Vila Verde que foi à minha apresentação e foi o mote para essa pessoa lançar o seu próprio livro. Toda a gente pode ser poeta, mas muitos têm o dom e não o põe ao serviço dos outros. E quando falo em concretizar um sonho, não é só na escrita, é em outras áreas e outras vertentes. Toda a gente que tiver sonhos pode realizá-los e eu sou a prova disso. Há pouco tempo tinha o 6ª ano e agora tenho o 12º, não tinha livros editados e neste momento tenho dois, já fiz parte de uma antologia nacional sobre o 25 de abril, e agora fui convidado para escrever para uma antologia sobre o mar da editora Chiado.
Este segundo livro não foi editado pela Chiado?
Não, foi pela ‘Cinco Livros’ e foi uma questão de custos, mas depois percebi que se tivesse falado com a pessoa certa da Chiado este livro também seria dessa editora. Será o próximo. Há uma coisa que eu queria salientar: neste segundo livro tive um apoio muito importante do comendador Rui Nabeiro, que custeou parte do livro.
Como chegou a esse patrocínio?
Foi por conhecimentos antigos, quando eu trabalhava numa empresa do ramo alimentar e fomos fazer uma visita lá. Aproveitei o facto de ter almoçado com o Comendador, contei-lhe a história, ele prontamente, aceitou patrocinar e é um orgulho porque quando batemos às portas das empresas aqui da zona não é fácil darem apoio à cultura, embora, a situação vai melhorando.
E a câmara de Vila Verde?
Sim, tenho que salientar o apoio da autarquia que comprou 50 livros para oferecer às escolas e para por nas bibliotecas e tenho a promessa de apoio da junta que quer adquirir exemplares para oferecer a entidades que venha visitar a freguesia. No fundo, é também, a imagem da freguesia até porque não conheço ninguém em Barbudo que editasse dois livros de poemas e tenha deixado um legado para o futuro.