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Rui Barbosa quer ter 333 caminhadas às Minas dos Carris para assinalar 33 anos de Gerês

O montanhista Rui Barbosa quer atingir, até ao final deste ano de 2022, um total de 333 caminhadas às Minas dos Carris, perto do ponto mais alto da Serra do Gerês, a fim de assinalar mais de três décadas consecutivas a descobrir paragens serranas.

33 anos depois de conhecer aquele histórico complexo mineiro, apaixonou-se definitivamente pela área envolvente do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Rui Barbosa, no ano de 2001, fez uma caminhada de 50 quilómetros, para comemorar o seu 50º aniversário, num percurso entre Paredes do Rio e Caldas do Gerês, passando por Paradela, Sirvozelo, Cela, Lapela, Azevedo, Xertelo, Chelo, São Lourenço, Cabril, Pincães, Fafião, Ermida e finalmente até Caldas do Gerês.

Autor do livro “Minas dos Carris – Histórias Mineiras na Serra do Gerês”, Rui Barbosa, montanhista que há diversos anos consecutivos mantém um blogue dedicado àquele local e ao Parque Nacional da Peneda-Gerês em geral, contactou pela primeira vez com o antigo complexo mineiro em setembro de 1989, jamais tendo deixado de o visitar.

Rui Barbosa, em entrevista ao ‘Terras do Homem’ revelou ter realizado até início de janeiro 322 caminhadas até às Minas dos Carris, sendo que, pelo menos uma vez por mês, se desloca ao local, independentemente das estações do ano, o que permite desfrutar melhor daquele espaço.

Para este ano de 2022, Rui Barbosa tem previstas caminhadas na Serra da Estrela e no estrangeiro, nos Picos de Europa, Escócia e Pirenéus. No entanto, a sua atividade, enquanto apaixonado da montanha, a par da atividade de guia, é desenvolvida ao longo das várias serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Por isso mesmo, em nove dos doze meses deste ano, Rui Barbosa realizará os percursos denominados Segredos da Albergaria, na mata encantada onde além dos seus frondosos bosques ripícolas, existe a maior concentração de marcos miliários do mundo, legada pela ocupação romana e onde passa a Via XVIII, também conhecida como Geira ou Via Nova.

Mas os percursos em que Rui Barbosa, também como guia, com 50 anos de idade e quase de 35 anos de montanha, nos próximos meses, incluirão Rocalva, Prados da Messe, Porta Ruivas, Vale de Teixeira, Alto do Borrageiro e Pitões das Júnias, entre diversas paragens.

“Estava dececionado como optometrista e dediquei-me a tempo inteiro à montanha”

Nascido em Braga a 3 de maio de 1971, Rui Barbosa começou a enveredar pela montanha aos 16 anos, enquanto membro do Agrupamento XIX, de São Vicente, em Braga, do Corpo Nacional de Escutas, numa altura em que era aluno da Escola Secundária Sá de Miranda.

Licenciado em Física Aplicada, no Ramo da Ótica, exerceu a atividade profissional como optometrista durante cerca de 20 anos, incluindo dois anos de trabalho na Guiné-Bissau.

Porque passou a dedicar-se a tempo inteiro profissionalmente a atividades de montanha?
Estando um pouco dececionado com a profissão de optometrista e querendo enveredar pelas atividades de montanha, decidi em 2018/2019 mudar-me para a freguesia de Campo do Gerês, no concelho de Terras de Bouro, iniciando então atividades de montanha com a organização de eventos de visita, tanto no Parque Nacional da Peneda-Gerês, como na organização de visitas a outras áreas protegidas em Espanha, nomeadamente nos Picos de Europa, Sanábria e Somiedo. Um trabalho que se vai consolidando, lentamente, sem massificação turística, respeitando a realidade peculiar da montanha.

Mas foi uma alteração brusca a nível profissional mesmo com experiência de montanha?
A mudança não foi difícil até por as atividades de montanha já fazerem parte dos meus tempos livres, juntamente com a escrita de artigos sobre as viagens espaciais. De forma geral, o futuro de um optometrista fora do mundo académico é o interior de um consultório onde a evolução técnica vai-se fazendo e só acontecendo à medida que a instrumentação evolui. Faltava-me a componente de investigação e como tal, o consultório seria sempre um beco sem saída. Daí ter sido relativamente fácil a troca de atividades, para a montanha.

Como é usufruir do Gerês nesta época do ano, em contraste com o período de Verão?
É um prazer somente descritível quando se está nele inserido. Fora da azáfama dos dias de Verão, temos a tranquilidade do Parque Nacional da Peneda-Gerês, dos seus bosques e florestas, dos seus rios tumultuosos e do silêncio das alturas e dos profundos vales. O parque nacional sente-se, aliás, é fora dos dias de Verão.

Com tantos anos de experiência acumulada, o que preconiza para este parque nacional?
O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) deve deixar aquela herança dos Serviços Florestais para trás e escutar cada vez mais as populações, não para criar baloiços, mas para conseguir uma harmonia que nunca teve, até por o PNPG ser peculiar porque tem gente a viver dentro dele e faz parte deste território há milhares de anos. O PNPG tem e deve saber equilibrar a proteção dos seus espaços com o facto de haver milhares de pessoas que nele vivem e dele dependem.

Mas nem sempre é fácil conciliar os interesses em confronto, como já se tem constatado
Sei ser uma tarefa difícil, numa sociedade que se preocupa mais pelas baterias de lítio dos seus telemóveis do que pelas crateras que resultam da exploração desse mesmo lítio. Muitos dos visitantes não visitam o PNPG, querem sim as suas lagoas e os seus rios. Se estas estivessem no meio do deserto seria a mesma coisa. Num país que pouco faz em relação às suas áreas protegidas e onde a protecção da natureza nunca foi uma prioridade, no PNPG tenta-se fazer o que se pode, numa constante deriva de orientações e que vão surgindo com cada nova governação e com cada novo sucessivo Plano de Ordenamento.

No caso das Minas dos Carris, a quem já dedicou um livro e muitos anos, o que defende?
Qualquer coisa que se queira fazer nas Minas dos Carris implica uma alteração no Plano de Ordenamento do PNPG. Na verdade, talvez mesmo já tenham sido perdidas as grandes oportunidades de se fazer algo de bom com aquelas ruínas. Portugal nunca foi um país com cultura de montanha, onde as atividades de montanha fossem vistas como atividades desportivas ditas “normais”. Assim, perdeu-se a oportunidade de se criar um refúgio de montanha exemplar onde se poderia ter juntado as atividades de montanha com um centro de promoção da proteção da natureza, respeitando os objetivos que são inerentes a uma área protegida, classificada como sendo parque nacional. De se conseguir ali um refúgio de montanha sem que a sua utilização colidisse com a proteção da natureza. Por outro lado, a eventual musealização daquele mesmo espaço poderia ser feita, mas teria de ser criada fora daquela área, talvez nas Caldas do Gerês, freguesia de Cabril ou Montalegre.

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