Manuela Barreto NunesOPINIÃO

Mística Fatal

É lugar-comum dizer-se que as leituras de Verão devem ser ligeiras e fugazes, capazes de pôr o leitor em brasa durante o breve intervalo das férias, enterrando-se depois na areia como os amores que o mar salgado traz e logo leva.

Os livros da canadiana Louise Penny podem bem enquadrar-se nesta descrição. São romances policiais elegantes, ao estilo clássico das britânicas Agatha Christie ou Catherine Aird, passados em pequenas terreolas ignoradas, onde as virtudes públicas escondem vícios privados, segredos ocultos que redundam em crime e mistério.

Mística fatal (D. Quixote, 2015) continua a tradição iniciada com Natureza morta, publicado entre nós em 2014: a história passa-se na aldeia de Three Pines, lugar idílico que o Inverno cobre de neve, e onde se pratica um curioso desporto chamado curling. E, no entanto, o crime espreita na forma de velhos pecados que acontecimentos recentes ameaçam revelar. É claro que alguém terá de ser assassinado, e é claro que o inspector Gamache, da Sûreté, será chamado a intervir. Gamache não é um detective atormentado, como nos policiais negros, mas um excêntrico, com uma original forma de tratar os seus subordinados e uma rara compreensão da natureza humana. Nesta aventura enfrenta três velhas moradoras de Three Pines, e desvenda os misteriosos assassinatos de uma bela e odiada mulher que se julgava descendente de Leonor de Aquitânia, e de uma sem-abrigo cuja morte apenas o nosso herói se empenha em desvendar.

O livro lê-se de uma penada e mantém o leitor em suspense da primeira à última página. Às vezes também precisamos destes momentos de ausência das inquietações diárias, de um espaço para respirar noutras paisagens, enquanto o corpo se regala ao sol e se deixa, por instantes breves, simplesmente estar.

 

Manuela Barreto Nunes [Bilbiotecária]

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