“Norte tem um desempenho de topo nos domínios da inovação e do empreendedorismo” refere estudo da OCDE
“Cerca de 64% da população considera que o Norte é um bom local para criar uma empresa – a segunda percentagem mais elevada entre as regiões portuguesas e acima da média da UE de 57%”. Esta é uma das conclusões do estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) “Repensar a Atratividade Regional”, apoiado pela Comissão Europeia, que foi apresentado, esta sexta-feira, em São João da Madeira, no âmbito do 6.º Comité de Acompanhamento do Programa Norte 2030.
“O Norte tem um desempenho de topo nos domínios da inovação e do empreendedorismo, tanto a nível nacional como da UE”, pode ler-se no documento, que acrescenta que “a taxa de criação de empresas por conta de outrem no Norte iguala a média portuguesa e é superior à da UE”.
Para a responsável da OCDE, Margarida Morais, “através deste estudo de caso, a OCDE visa ajudar a região Norte a compreender e a potenciar a sua atratividade regional, fornecendo considerações de política pública concretas, incluindo orientações para a sua implementação, e sublinhando a importância da governança multinível e da cooperação entre as diferentes entidades a nível regional e nacional.”
No entanto, apesar dos claros pontos fortes em matéria de inovação e empreendedorismo e do bom desempenho do mercado de trabalho, o estudo aponta a dificuldade do Norte em traduzir estes pontos fortes num melhor desempenho económico, com uma produção per capita e uma produtividade baixas.
A forte especialização industrial e um ecossistema de inovação sólido são evidências da região onde sobressaem indústrias dominantes como o têxtil, o calçado, o agroalimentar e componentes automóveis que têm um forte peso na economia, mas operam sobretudo em segmentos de menor valor acrescentado, limitando os salários e a retenção de talento qualificado.
Para além do potencial económico e da inovação, o estudo destaca também os temas da demografia, alertando para o risco do êxodo de talentos e do envelhecimento populacional; os desafios das infraestruturas e da conectividade; a necessidade da transição verde e sustentabilidade e o latente crescimento do turismo e da cultura.
“Apesar de ser líder no domínio das energias renováveis, o Norte – e Portugal em geral – tem ainda um longo caminho a percorrer na melhoria da eficiência energética e no combate à pobreza energética”, refere neste âmbito.
De acordo com o estudo “o capital cultural está disperso por toda a região, permitindo a colaboração em rotas temáticas. Os sítios do património cultural e natural da UNESCO do Norte estão distribuídos pelo seu território com cada uma das sub-regiões Cávado, Ave, AM Porto e Douro a possuir um desses sítios listados, enquanto Terras de Trás-os-Montes, Alto Tâmega e Barroso e Douro oferecem uma prevalência de museus e galerias acima da média.”
Há disparidades no número de turistas entre as sub-regiões do Norte, com o número de dormidas em alojamento turístico mais elevado na AM Porto (4.614 dormidas por 1.000 habitantes) e Alto Minho (4.586), ambos acima da mediana portuguesa e comunitária (4.113 e 3.281, respetivamente), e mais baixo nas sub-regiões Tâmega e Sousa (1.155), Ave (1.525) e Cávado (2.936). Ainda assim, todas as sub-regiões do Norte são atrativas para os visitantes estrangeiros – incluindo os territórios relativamente menos orientados para o turismo, refere ainda o estudo da OCDE.
O relatório assinala que “o financiamento da UE tem sido fundamental para reforçar o desenvolvimento regional em Portugal e no Norte”, num contexto de “uma estrutura governamental altamente centralizada”.
Para o presidente da CCDR NORTE, António Cunha, “o Norte é uma região com territórios muito diversos, com alguns casos excecionais de sucesso ao nível do empreendedorismo e da inovação, mas com ainda com um longo caminho a percorrer no âmbito da coesão territorial”.
Para o responsável, as conclusões do estudo vão de encontro às prioridades estratégicas da região, refletidas em instrumentos de desenvolvimento, como é o caso do Norte 2030.
A OCDE deixa ainda seis recomendações de políticas para a região, considerando que deve “apoiar a transição para atividades de maior valor acrescentado e incentivar o investimento e a inovação das PME [pequenas e médias empresas] nas principais indústrias transformadoras”. A região deve também “preparar o setor industrial para a transição ecológica, assegurando a disponibilidade das competências necessárias na região” e “alargar a oferta de habitação nas sub-regiões mais densamente povoadas do Norte, em particular nos concelhos urbanos que enfrentam maiores desafios”.
Por fim, considera que “nos territórios de baixa densidade do Norte é necessário melhorar a oferta de serviços públicos, como os cuidados infantis e a educação, para atrair e reter talentos”, e que se deve “promover o investimento na região através de uma abordagem nacional e territorial mais integrada”.
“Consolidar o quadro institucional e melhorar a governação a vários níveis no Norte, assegurando estruturas claras de cooperação entre diferentes entidades e níveis de governo”, é a recomendação final do documento.