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Sylvie Castro: uma alma portuguesa de Amares para o Mundo

Sylvie Castro é uma multi-artista focada em elaborar produtos que identifiquem o ser português.

O seu mais recente projeto chama-se d’vilaverde. Inspira-se no amor, nos lenços dos namorados e dá-lhe um cunho muito pessoal. Tem, ainda, a SYO, a d’amares e a sylviecastrodesign. Tudo ramos da mesma árvore criativa inspirada nas pessoas, nas coisas, nos símbolos, na essência de cada lugar.

Em breve vai nascer a d’braga, mas há mais na forja, isto se o doutoramento deixar. De um concelho pequeno como Amares transborda um espírito sem fronteiras que aposta nas redes sociais e no digital para divulgar o seu trabalho.
Em plena pandemia, a conversa por escrito não poderia ser mais incisiva e reveladora: “a Sylvie de hoje é ainda mais sensível e atenta às pessoas e aos objetos. De alguma forma, é também mais crítica”.

(Entrevista publicada na versão impressa do Terras do Homem de 9 de abril de 2020)

Em que ponto artístico está, atualmente, a Sylvie Castro?
Atualmente considero que a arte, mais do que nunca, constrói-se em várias direções.
Com o acumular de várias experiências (desde a prática do desenho, ensino das artes visuais, ilustração, investigação, criação de jóias e azulejos) desafio-me e aventuro-me na criação de novos produtos que resultam do cruzamento e das aprendizagens/experiências.
Existe uma grande necessidade para satisfazer o ato de criar em si. O ponto artístico em que me encontro? Talvez o da construção e experimentação…

O que está a inspirá-la, no mundo de hoje, para fazer os seus trabalhos?
A influência de tudo que me rodeia tem um forte impacto nas minhas criações.
Desde o local onde vivo até aos locais onde me movimento, todos os dias, ou então os locais que visito nas férias. (Sim porque férias, raramente, são para descansar, são antes para explorar/conhecer para dar origem a novas criações).
Há, agora mais que nunca, uma grande necessidade de criar produtos com identidade para dar resposta aos concelhos/cidades que me rodeiam.
A d’amares, a d’vilaverde e futuramente a d’braga, são a resposta que quero dar ao público, não só que nos visita mas também para os que são de cá, para que possam usufruir de produtos identitários.

Olhando para trás, que mudanças houve na Sylvie do início e na Sylvie de hoje?
(risos) Essa pergunta é interessante e difícil ao mesmo tempo.
Muitas…mas na essência nenhuma! Ou seja, crescemos e aprendemos muito com as experiências falhadas e as más escolhas.
Hoje, não confio como confiava nas pessoas (empresários) porque sofri na pele o desrespeito pela criação e pelo criador, nomeadamente pelos meus direitos, os direitos de autor. Entretanto, perdi alguns medos e ganhei alguma confiança no que produzo, nem sempre é fácil avaliar o meu trabalho, tenho sempre a sensação que pode ficar melhor. Sou mais exigente.
A Sylvie de hoje é ainda mais sensível e atenta às pessoas e aos objetos. De alguma forma, é também mais crítica.
Continua a mesma sonhadora, essa característica parece não desaparecer…

Por falar em início, recorde-nos como começou esta aventura?
Começou em 2005. Após regressar do ERASMUS em Paris concluí a licenciatura e a convite do CPD integrei no CEARTE e trabalhei durante um ano para o projeto AVANTCRAFT.
Aqui nasceu a primeira criação em filigrana com identidade atlântica, uma escrava saída das profundezas do mar. Concluí o estágio e regressei a casa, foi então que dei início a uma nova aventura: lecionar na minha área, as Artes Visuais.
Passados sete anos, nasce a SYO, e podemos dizer que é a partir daqui (2012) até aos dias de hoje, que tudo se desenvolve e ganha contornos firmes.

Num mundo global, sente alguma dificuldade por ser uma criadora saída de um pequeno concelho, como Amares?
Claro que sim! Estaria a ser falsa se não o reconhecesse, mas tenho também algumas vantagens, ninguém faz o que eu faço, ou seja, o facto de estar aqui, viver aqui, faz com que crie inspirada em “coisas” daqui. Se vivesse em Lisboa, Paris, Londres ou Nova Iorque, certamente que as inspirações seriam outras, de acordo com as realidades desses locais, mas certamente que as oportunidades também seriam outras, elevadas a um nível, talvez bem mais alto.

Como contorna isso?
As ferramentas digitais, que estão ao alcance de todos, acabam por encurtar distâncias e aproximar os produtos do público.
Todas as minhas marcas têm sites próprios: syo.pt; a damares.pt; a dvilaverde.pt e a sylviecastrodesign.pt são páginas que chegam a qualquer parte do mundo, não estão ainda como gostaria, até porque também sou eu, com a preciosa ajuda da minha amiga Mónica Silva, que fazemos a gestão e introdução de novos conteúdos sempre que possível.
Estar presente em alguns eventos também ajuda a projetar as marcas.

Quem é o ‘público’ da Sylvie?
Curiosamente é muito vasto. Quando criei a SYO achava que seria apenas um nicho de mercado pelo facto das peças serem criações únicas e deslumbrantes. Agora vejo que, afinal, as pessoas que me procuram são de níveis culturais e económicos muito diferentes e considero isso uma mais valia.

Como faz a divulgação do seu trabalho? Como tem sido o feedback?
A divulgação é feita, essencialmente, pelos meios que temos ao dispor: sites e redes sociais. Claro que os convites para estar em televisão, revistas e rádios são sempre bem vindos e uma forte rampa de projeção. Talvez a mais eficaz.
O feedback será, eventualmente, uma das forças que alimento para lutar por mais e melhor.
Muitas vezes, quando exponho o meu produto, estou em contacto direto e vejo a expressão das pessoas e de seguida escuto atentamente o que têm para me dizer. Ouvir que o que faço é altamente importante nos dias de hoje. Dizem muitas vezes “não desista nunca mesmo que o mercado seja restrito em Portugal não perca essa essência e esse entusiasmo ao comunicar as suas criações”.
São palavras que nos enchem a alma e pelas redes sociais vai acontecendo o mesmo.

Terminando como começamos, para onde caminha a artista Sylvie Castro?
Estou focada nos passos, um a um. Sei bem para onde quero ir, aliás, sempre soube desde muito cedo. Muitas vezes os caminhos são tortos e incertos, mas é por esses mesmos que chegamos onde queremos. Os passos curtos que dou levam-me para passos mais longos e firmes.
Hoje tenho a SYO, a d’amares e a d’vilaverde, a ilustração, a investigação. Amanhã, terei a d’braga, d’porto, d’monção, livros publicados com as minhas ilustrações, um doutoramento em progressão.
O país é pequeno mas recheado de cultura e património e vejo-me a beber dessa cultura todos os dias, em locais diferentes, o que vai originar produtos diferentes mesmo que sejam criados pela mesma alma, uma alma bem portuguesa.

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