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Mais de 1,5 milhões de euros de fogo de artifício cancelado no Alto Minho

A maior empresa de fabrico de fogo de artifício do distrito de Viana do Castelo teve mais de 1,5 milhões de euros de encomendas canceladas desde novembro devido à pandemia de covid-19, estimou hoje o administrador.

Com sede na freguesia de Santa Cruz, em Ponte de Lima, e com filiais na Madeira e Angola, a Pirotecnia Minhota, com 120 anos de existência, “tem em carteira apenas a encomenda de uma unidade hoteleira para os festejos da Passagem do Ano, no valor de cerca de seis mil euros”.

“O resto foi cancelado. Os cancelamentos começaram em novembro, na filial de Angola. Tínhamos um contrato de um milhão de dólares para as comemorações dos 45 anos da independência de Angola, no dia 11 de novembro”, afirmou hoje à agência Lusa David Costa.

O empresário acrescentou que após o anúncio, pelo Governo, das restrições nos festejos da Passagem do Ano, “as restantes encomendas, muitas de autarquias, foram todas canceladas”.

“Apenas se mantém a encomenda do fogo de artifício que um hotel vai lançar, dentro do complexo, para os hóspedes”, especificou.

Segundo David Costa, “o impacto económico da pandemia começou a sentir-se a partir de abril, mas no setor da pirotecnia começou no final de 2019”.

“A nossa atividade é sazonal. Faturamos no final do ano e não voltamos a faturar mais até agora, com o cancelamento de festas e romarias. No final de um ano normal, a faturação rondava os 300 a 400 mil euros. Em 2020, ronda 1 a 2% desse valor”, avançou, lamentando a ausência de apoios ao setor.

“Apoios zero. O nosso setor está completamente esquecido. Até este momento, não temos tido qualquer tipo de apoio”.

Em novembro, a Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos (ANEPE) acusou o Governo de “ignorar” o setor da pirotecnia, ao deixá-lo de fora dos novos apoios aos setores mais afetados pela pandemia, admitindo partir para novas formas de luta.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) citados pela ANEPE, o CAE 20510- Fabricação de explosivos e artigos de pirotecnia representa um volume de negócios superior a 40 milhões de euros, sendo “uma parte muito significativa do mesmo relacionada com o fornecimento de serviços para eventos”.

O administrador da Pirotecnia Minhota disse que, dos 22 trabalhadores que empregava na fábrica de Ponte de Lima, e nas filiais na Madeira e Angola, “ficaram apenas três”.

“Os restantes, tive de os despedir. Para uma atividade sazonal como a nossa, o regime de ‘lay-off’ é um presente envenenado. A minha empresa estaria numa situação muito pior se tivesse recorrido ao ‘lay-off’. Tenho um acordo com os trabalhadores que, se retomarmos a atividade, serão chamados e voltarão se quiserem”, adiantou.

Além dos 22 funcionários, “nos meses de maior volume de trabalho, a empresa chegava a ter entre 100 e 120 trabalhadores”.

David Costa adiantou ser “muito complicado fazer previsões” para 2021.

“Não consigo ver uma luz do túnel. Aguentarei a empresa até os meus fornecedores e os meus colaboradores conseguirem aguentar. No dia em que os meus fornecedores, a quem devo dinheiro, e os meus colaboradores, a quem devo dinheiro, não aguentarem, a empresa poderá requer a insolvência”, observou.

“Espero que isso não aconteça, mas estamos com muita dificuldade em conseguir honrar os compromissos, quer a nível do Estado, quer a nível de contas correntes. É muito complicada a situação”, admitiu.

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