Pastores de Gerês preocupados com ataques de lobos e javalis
Os pastores das zonas mais altas do concelho de Terras de Bouro estão preocupados com o aumento dos ataques de lobos aos rebanhos de cabras e de javalis aos campos de cultivo, segundo apurou o ‘Terras do Homem’ junto de vários lesados na zona erma do Gerês.
De acordo com as informações recolhidas diretamente junto de pastores das freguesias de Vilar de Veiga, Santa Isabel do Monte, Covide, Carvalheira e Gondoriz, no caso dos lobos os ataques têm vindo a intensificar-se nas últimas semanas, enquanto os javalis destroem o melhor das suas plantações e sem que os lesados consigam reverter as situações.
Na localidade de Paredes, da freguesia de Carvalheira, abordamos, na estrada municipal, um dos pastores com mais cabras na região, Manuel Afonso, que perante as questões, não escondeu o seu desalento com os últimos acontecimentos. Lamenta-se da série de investidas, especialmente durante a noite, de manadas de javalis, destruindo numa madrugada meses de trabalho nos campos de cultivo, não só mas também em Carvalheira.
Mas os ataques rápidos e fatais dos lobos são aquilo que mais preocupa Manuel Afonso, tal como os outros pastores de Terras de Bouro, comentando ao Terras do Homem que “a minha tarefa já não é tomar conta das cabras, mas principalmente tomar conta dos lobos”.
Segundo revelou o pastor Manuel Afonso, “anualmente eu tenho um prejuízo de cerca de dez mil euros, só com as mortes das cabras, isto não falando dos estragos dos javalis nas hortas, o que me leva a pensar seriamente se valerá a pena continuar com esta profissão”.
Manuel Afonso tem dois filhos que o auxiliam no pastoreio, geralmente entre Paredes e Vilarinho de Furna, um dos quais admite seguir a profissão do pai, mas, segundo explicou, “já lhe disse para pensar bem, porque é tudo muito bonito, a vida aqui no campo, turistas a parar os carros para verem as cabras passar, mas os ataques dos lobos desmotivam-nos”.
Questionado sobre os ressarcimentos do Estado, através do ICNF/Ministério do Ambiente e Ação Climática, Manuel Afonso refere que “existindo esses apoios estatais, a verdade é que na prática, além de não pagarem nunca mais de metade do valor das cabras, quando damos por elas mortas, já estão em tal estado, que os técnicos do ICNF não conseguem a confirmação de terem sido os lobos a causar as mortes, o que implica desde logo nós não sermos indemnizados, situações que ocorrem na maioria dos casos, pois os lobos, como é sabido, costumam apanhar as cabras em sítios mais isolados, demorando alguns dias já a darmos com cabras mortas, pelo que a grande maioria dos prejuízos nunca nos é paga”.