AMARESDestaque

O regresso com esperança da Banda de Amares à atividade

A banda de Amares está a recomeçar o seu trabalho depois de dois anos muito complicados, devido à pandemia e à falta de espetáculos. Uma nova direção tomou posse, pouco tempo antes, do primeiro confinamento e só agora é que começam a por em prática algumas das ideias que têm para uma das mais antigas coletividades do concelho.

Depois de ter liderado uma comissão administrativa, António Pinheiro assumiu a presidência da nova direção no início de 2020. “Estou à frente da banda desde finais de 2017 foi o primeiro mandato… fui uma espécie de salvador da pátria porque não havia ninguém, as pessoas afastaram-se da banda, quando ela bombava e corria bem, toda a gente elogiava, mas na fase má, quando saíram músicos e o maestro, ficou a dirigir a banda um músico e a sua saída originou que levasse o restante efetivo que já trabalhava junto desde jovem”.

Segundo António Pinheiro, “depois da saída desta gente toda, a coisa complicou, meti-me ao barulho, regressei, juntei duas/três pessoas e fizemos uma comissão administrativa para três anos”. A ligação afetiva que tem com a banda vem do tempo do avô e do pai, todos músicos. “Sou músico da banda desde os 10 anos, tenho uma ligação de carinho, dá trabalho até porque é em regime de voluntariado, mas é uma instituição que, por mim, não vai acabar…”

Depois da comissão administrativa conseguiram formar uma direção com vários elementos atuais e ex-músicos que tomou posse no início de 2020. “Foi uma fase em que todos estávamos com ânimo e coragem, chegamos a fazer uma festa, em Rendufe, mas depois veio a pandemia e as ideias e força iniciais foi-se desvanecendo. Durante a pandemia não atuamos nenhuma vez”.

Recomeço
“Este período foi um bocado complicado, não a nível da atividade porque se não há atividade não há prejuízos, mas foi complicado por causa dos músicos da banda. Cada um foi para o seu lado e muitos até acabaram por desistir da própria música indo para outro ramo laboral”, inclusive o maestro, António Ferreira, que “sofreu a morte da mãe durante a pandemia e o envolvimento emocional bateu um pouco no fundo, fez com que desistisse da banda e seguisse com a vida dele, não querendo ser mais o diretor artístico da banda.

Em fevereiro, foram convocados os músicos que ainda estavam ligados à banda e outos foram convidados. “Foi um processo difícil este de juntar os músicos, se eu não tivesse algum conhecimento de músicos de várias gerações, teria sido muito difícil. Uns porque abandonaram, outros foram para outras bandas que apresentaram melhores condições.

Primeiro concerto
A banda, neste momento, não está a trabalhar 100% com músicos efetivos devido à atual situação, mas tem cerca de 60 músicos. O primeiro concerto foi em abril, em Rendufe: “uma ideia que andava na nossa cabeça há algum tempo era fazer alguma coisa alternativa, experimental, para servir de exemplo a concertos que podemos fazer no futuro, já no verão, numa versão mais pop”.

Há uma geração de músicos muitos novos na banda, “bastante interessada” vindos da Escola Calouste Gulbenkian, em Braga. “Uma mãe de Amares tem um filho a estudar na Gulbenkian e havia uma série de miúdos, na área dos sopros, que não eram aproveitados para outras bandas até porque preferiam os miúdos dos 16 anos para cima, e este jovens miúdos nunca tinham oportunidade de tocar em bandas. É o futuro e para nós é muito bom. Temos aqui a espinha dorsal, dos que são formados ou a estudar música, e vamos fazer tudo para que estes mais novos entrem na banda e vão ocupando os naipes. Espero que dentro de dois anos tenham dado um salto enorme até porque têm a ajuda do maestro que tem um enorme jeito para lidar com eles”.

A história curiosa do maestro
O maestro João Rafael Costa é um jovem tubista, de 25 anos, licenciado em tuba e a acabar o mestrado em Aveiro. “Eu já o conhecia de o ver tocar na banda, e na altura muito jovem eu percebia que era muito maduro para a idade que tinha. Depois da saída do anterior maestro durante a pandemia, tínhamos que encontrar uma solução para quando a pandemia terminasse, começássemos os trabalhos. Tínhamos pensado numa pessoa aqui da terra, ficou entusiasmado, mas quando viu a situação em que a banda se encontrava, bastante depenada, assustou-se um bocado e recuou”.

É neste período, que se dá um episódio curioso. “Eu pensei que estava a ligar para um outro músico, também chamado de João Costa, e sem querer estava a falar com o João Costa tubista. Na conversa, ele disse-me quem era eu pedi desculpa, mas disse-lhe para falarmos um bocado e percebi que era ele que estava a dirigir um vídeo da Banda Sinfónica Portuguesa que eu tinha gostado bastante. Andava por conta própria, a tirar umas formações em direção de orquestra e eu sempre a interagir, sem nunca lhe dizer o assunto. E então ele diz que se houvesse uma oportunidade que gostaria de dirigir uma banda e eu fiquei com aquilo na cabeça”.

Entretanto, o outro convite acabou por dizer que não e nessa altura, o presidente da banda abordou “diretamente o João se estava interessado em dirigir a Banda de Amares até porque na zona dele lhe tinham dito que era muito jovem, que um maestro tinha que ser alguém mais velho, mais maduro. Eu já cá ando há algum tempo e sei que esta nova geração está muito bem preparada, precisa é de oportunidades, falei com a direção sobre o nome dele e as pessoas confiaram na minha decisão”.

Concerto Rendufe
A banda começou a trabalhar em finais de Setembro, início de Outubro, até porque a banda tem por hábito fazer um concerto de ano novo, “fizemos um ensaio em Dezembro mas, por ordens do município, anulou-se o concerto”.

Em fevereiro, houve luz para o regresso das atividades culturais. E foi uma aventura porque “foi um bocado um bordamento de telefonemas e mensagens para se reunir um leque de músicos que ocupassem os diferentes naipes da banda. Foram aparecendo e tivemos um trabalho, num curto espaço de tempo, para montar o concerto que demos em Abril que foi uma pequena aventura que até correu bem”.

António Pinheiro reconhece que com o tempo que tinham “não deu para fazer mais, primeiro porque era um concerto temático, com projeção na tela, temas escolhidos a dedo, com cantor lírico e foi tudo decidido numa reunião, veio o cantor, veio o maestro, trocaram ideias e em oito dias decidiu-se o que cantar e o que tocar. A montagem do vídeo foi feita em tempo recorde, mas no final foi muito compensatório”.

Concertos de verão pop
Com alguns contratos em 2020, mas por desistência das comissões de festas ou passagem para outras foram abolidos, ficarem sem efeito, “eram festas boas porque tinha despique de bandas, logo com muita gente e a banda gosta disso”.
Desde março, a direção está a trabalhar e já marcou algumas festas.

“Baseado naquilo que fizemos em Rendufe, começamos a elaborar uma ideia e a abordar os presidentes de junta das freguesias maiores, porque tem que envolver uma verba, para os ditos concertos de verão”. São concertos mais pop, mais virados para as novas gerações.

É com orquestra de palco, com um ambiente mais chamativo, envolvendo alguns cantores. A ideia é criar uma abertura, depois uma obra da própria banda, rodando temas mais pop e mais sinfónicos e depois um misto com instrumental e vocal. “Queremos tocar músicas que as pessoas de todas as gerações identifiquem”.

“Também fizemos um trabalho que nunca foi feito, transpor arranjos clássicos para arranjos sinfónicos, uma transposição que nunca havido sido feita para banda e que foi uma estreia no concerto de Rendufe. Se fizeram, desconhecemos as partituras nas editoras. Foi uma jovem, que nunca curto espaço de tempo, fez esse trabalho e vamos querer contar com ela, também, para esses concertos de verão”.

Quatro freguesias estão quase fechadas, “mas ainda estamos a discutir valores até porque isto também é um serviço para a comunidade. Serviço para a comunidade não é só calcetas e paralelos ou estradas em alcatrão, a comunidade também precisa de alívio emocional e alegria pessoal e eu tenho de explicar isso às pessoas.

Finanças
“Se a banda tiver melhores condições financeiras no final do ano, e eu estou em crer que sim, a banda vai ter outras condições de trabalhar festas e romarias, de acordar com os músicos trabalhos e atividades, de forma que fiquem satisfeitos em andar por cá”. Aliás, este é um dos objetivos primordiais.

“Há um problema transversal a todas as bandas: os músicos estudam e a grande maioria já vive da música, se não houver um projeto que lhes dê retorno financeiro, os músicos para fazerem trabalho de ensaio é muito complicado porque deixam a banda para último recurso. Por isso, tem que haver um projeto, um maestro que tenha as palavras certas, que seja um líder e se tiverem qualidade musicais, ainda é melhor”.

Se a situação pandémica se mantiver, se o maestro se mantiver, em 2023 “a Banda de Amares vai ao barulho e vamos ver como as coisas vão resultar em termos musicais, em bom ambiente, podemos voltar aos concursos”.

Museu e uma exposição de troféus
Na sede da banda, há uma extensa exposição com os troféus ganhos em concurso e um conjunto de instrumentos antigos que estão inseridos naquilo que a direção da banda seja um museu. Fotografias, diplomas, homenagens aos fundadores compõem o portefólio do museu que, no futuro, poderá ser dinamizado de forma diferente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *