IA pode ajudar radiologistas no rastreio do cancro da mama
Uma investigação realizada na Suécia e publicada no Lancet Oncology permitiu, sobretudo, concluir que não há risco para os radiologistas utilizarem ‘softwares’ de Inteligência Artificial (IA) para melhor direcionarem as suas análises, noticiou a agência France-Presse (AFP).
Os cientistas dividiram cerca de 80.000 mulheres em dois grupos de tamanho semelhante.
Todas realizaram mamografia, mas o primeiro grupo foi rastreado da maneira clássica, ou seja, com o olhar de dois radiologistas independentes, enquanto os dados do segundo foram examinados primeiro por IA e depois por um único radiologista.
No final, o grupo assistido por IA não teve pior desempenho e até foi detetado um maior número de casos de cancro.
A taxa de “falsos positivos”, ou seja, casos em que o primeiro exame regista erroneamente suspeita de cancro, foi semelhante.
Como é necessário apenas um radiologista no procedimento envolvendo IA, o uso desta tecnologia pode acabar por reduzir para metade a carga de trabalho desses médicos.
Estes resultados são promissores porque o rastreio é amplamente considerado uma das principais formas de combate ao cancro da mama.
No entanto, é ainda muito cedo para concluir sobre o real interesse da IA neste campo e serão necessários vários anos de análise para saber se esta ferramenta pode ser tão eficaz como uma dupla opinião humana.
Para fazer isso, os investigadores irão comparar em dois anos a taxa de cancro que escaparam da triagem, mas que foram diagnosticados posteriormente.
Os dados iniciais do estudo também deixam margem para incertezas sobre o risco de ‘sobrediagnóstico’, ou seja, de identificar lesões que não teriam evoluído para cancros perigosos sem tratamento.
Esta temática do ‘sobrediagnóstico’ está no centro de algumas críticas aos méritos do rastreamento generalizado, ainda que os estudos confirmem cada vez mais claramente o seu interesse para a redução do cancro da mama.
O risco de ‘sobrediagnóstico’ deve “encorajar cautela na interpretação dos resultados”, alertou o oncologista Nereo Segnan, da Lancet Oncology, que não participou no estudo, num comentário à investigação.
Segnan reconheceu, no entanto, a natureza promissora do trabalho realizado com IA.