Cancro da Próstata é a segunda maior causa de morte por cancro em homens acima dos 50 anos
A 17 de novembro assinala-se o Dia Mundial do Combate ao Cancro da Próstata, um dos tumores mais frequentes em indivíduos do sexo masculino, sendo considerado a segunda causa de morte oncológica mais comum desta população. O Instituto da Próstata estima que em Portugal são diagnosticados entre 5.000 a 6.000 novos casos de cancro da próstata por ano, o equivalente a 21% de todos os tumores no homem. Em média, um em cada seis homens será diagnosticado com cancro da próstata ao longo da sua vida. Estes números são considerados muito elevados e podem ser facilmente controlados com uma prevenção eficaz e um diagnóstico precoce. O diagnóstico precoce é, por isso, essencial para aumentar a probabilidade de sucesso do tratamento.
Apesar de ser o tumor maligno mais frequente nos homens, o cancro da próstata é uma doença geralmente silenciosa, de evolução lenta e assintomática (sem sintomas), na qual, o aparecimento de sintomas pode ser sinal de doença avançada. Detetá-lo numa fase precoce é essencial, pois permite tratar com uma taxa de cura muito elevada. As diretrizes da Associação Europeia de Urologia (EAU) referem que deve ser feita a realização de um exame digital (com palpação da próstata através de toque retal) e de uma análise sanguínea a um marcador, o PSA (Antígeno Específico da Próstata) a todos os homens com mais de 50 anos ou a partir dos 45 anos quando há histórico familiar de cancro da próstata.
Há ainda que estar atento aos níveis de testosterona, pois esta hormona é responsável pela degeneração e multiplicação das células da próstata. Com estes exames é possível detetar-se a doença antes do aparecimento dos sintomas, pois ao contrário do cancro da mama, não existe um rastreio de rotina do cancro da próstata para identificar os homens que estão em risco. Como em todas as doenças oncológicas, o diagnóstico precoce é fundamental para melhores resultados do tratamento, melhor e maior sobrevivência e menor probabilidade de morte.
José Graça, atual Vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata (APDP), um homem de 64 anos, a residir em Lisboa. Começou a ser seguido regularmente por um Urologista em virtude dos níveis de Antigénio Específico da Próstata (PSA) terem começado a aumentar e a preocupá-lo. Após vários exames para despistar outras possíveis patologias da próstata, e com o PSA a atingir níveis elevados, fez uma ressonância magnética que levantou algumas suspeitas, confirmadas posteriormente por uma biópsia, pelo que em Julho de 2014 entrou para as estatísticas dos 5.000 a 6.000 mil novos casos de cancro da próstata diagnosticados em Portugal. Foi operado em setembro de 2014, e hoje faz uma vida completamente normal, sendo apenas sujeito à habitual vigilância médica.
Para José Graça “os dados que temos sobre a incidência do cancro da próstata em Portugal são preocupantes, mas o que nos deixa ainda mais alarmados é este ser um cancro com um estigma muito elevado associado, que por vezes acaba por levar a um diagnóstico tardio da doença. Todas as pessoas com quem conversei e a quem recomendei ir ao médico de família ou ao urologista para a realização de exames periódicos, e que acabaram por ser diagnosticados com cancro da próstata numa fase inicial, praticamente não apresentaram os sintomas habituais”.
“Para acabar com o preconceito, a despistagem ao PSA deveria de fazer parte de qualquer rol de análises de rotina aos homens com mais de 50 anos, semelhante ao rastreio do cancro da mama para mulheres. O rastreio é o primeiro e mais simples passo para o diagnóstico do cancro da próstata e acho [surpreendente] que ainda não o façamos”, defende o vice-presidente da APDP.
“A Recomendação 2003/878/CE do Conselho da União Europeia estabelece recomendações para o rastreio do cancro na União. A recomendação incentiva os Estados-Membros da UE (União Europeia) a implementarem programas de rastreio populacional com garantias de qualidade e isso é fundamental para melhorar o rastreio do cancro e garantir que a grande maioria das pessoas das faixas etárias visadas, de todos os grupos socioeconómicos e ao nível de todo o território, tenham acesso a uma campanha de rastreio. Infelizmente esta diretiva ainda não foi implementada em Portugal, o que permitiria salvar muitas vidas e reduzir os custos associados ao tratamento do Cancro da Próstata”, conclui José Graça.
O cancro da próstata é um processo de crescimento anormal e desorganizado de algumas células desta glândula do sistema reprodutor masculino, que nas situações onde o diagnóstico ou o tratamento se atrasam levam a uma proliferação descontrolada da patologia. Na maioria dos casos o tumor caracteriza-se pela sua lenta evolução e apresenta um comportamento assintomático. O tipo e intensidade das queixas dependem do estádio da doença. Quando o tumor metastiza, ou seja, ultrapassa os limites da próstata e afeta outros órgãos, podem existir sintomas diferentes e não relacionados com o aparelho urinário. Os locais de metastização mais comuns são os gânglios linfáticos e o osso.
Quanto mais precoce o cancro for detetado, melhores os resultados. As opções de tratamento do cancro da próstata são, regra geral, acompanhadas de questões e preocupações, que não assumem o mesmo protagonismo noutros procedimentos cirúrgicos. Existe, portanto, um grande misticismo associado à cirurgia prostática, sendo a disfunção erétil e a incontinência urinária as principais angústias dos indivíduos, levando muitas vezes a um atraso na procura de ajuda.
Tendo isto em conta, os seus sintomas podem demorar anos até se manifestarem. De qualquer forma, os sintomas associados a alguns casos de cancro da próstata podem estar relacionados com a obstrução criada pela própria glândula:
1. Dificuldade em urinar;
2. Aumento da frequência em urinar, especialmente durante a noite;
3. Urinar em pequenas quantidades;
4. Sentir dor pélvica ou ter incontinência urinária;
5. Sangue na urina/sémen.
Os hábitos alimentares, como o consumo de álcool, exposição ocupacional a produtos tóxicos, comportamento sexual, exposição a testosterona, obesidade e inflamação crónica são habitualmente apontados como sendo eventuais fatores de risco para o desenvolvimento da patologia. O cancro da próstata tem um impacto considerável na qualidade de vida dos doentes, sendo a disfunção urinária, a disfunção sexual e o desequilíbrio da saúde mental as áreas mais afetadas.
Apesar de não se ter demonstrado que o rastreio consiga aumentar o tempo de sobrevida, o resultado de um cancro da próstata diagnosticado numa fase precoce é significativamente melhor do que num estadio mais avançado. O principal objetivo do diagnóstico precoce consiste na identificação das pessoas com cancro clinicamente significativo e localizado, de forma a possibilitar a realização de tratamentos potencialmente eficazes e curativos. Detetar o cancro da próstata numa fase precoce permite tratar com uma taxa de cura que pode ser superior a 95%.
O cancro da próstata atinge todas as faixas etárias, mas nos últimos anos tem aumentado de forma significativa nos grupos mais jovens. A sobrevivência estimada ao fim de 5 anos após o diagnóstico é praticamente 100%.