Escolas e alunos são os grandes beneficiários da proximidade com os Municípios
As escolas e os alunos são os grandes beneficiários da cada vez maior intervenção dos municípios no setor da educação, conforme se pôde concluir da terceira conferência online “Vila Verde 2030”, que na noite de sexta-feira juntou a vereadora Júlia Fernandes e um painel com o ex-ministro David Justino, a psicóloga Ana Isabel Lage e o diretor escolar João Graça.
A sessão decorreu com uma grande adesão e interação do público, vincando o interesse na problemática da educação e enaltecendo a abordagem dos temas em discussão numa perspetiva descomprometida de interesses setoriais, mas antes focada nos interesses dos alunos e da sociedade.
A educação é uma competência da Administração Central e do governo. Mas os Municípios – como é o caso de Vila Verde – têm sido chamados a cobrir sistematicamente as carências e a assumir encargos para garantirem a qualidade e melhores condições ao ensino público. Um modelo cujo sucesso foi sublinhado pelo diretor da Escola Secundária, João Graça, aproveitando para defender o reforço de “uma relação que tem funcionado perfeitamente”.
Responsável pelo pelouro da educação em Vila Verde, Júlia Fernandes assumiu a opção estratégica do Município e mostrou-se mesmo otimista quanto ao aprofundamento da relação com as escolas, referindo-se à programada transferências de competências da administração central para as Autarquias, prevista para março de 2022.
A relação de proximidade entre Município e a comunidade escolar tem reforçado a capacidade de resolver problemas e encontrar soluções – situação que ficou ainda mais evidente face às contingências provocadas pela crise pandémica provocada pela Covid-19, como sublinharam os intervenientes na sessão.
“No concelho de Vila Verde, o conceito de proximidade das escolas com o Município já acontece e está a funcionar tão bem, de forma quase orgânica, que agora é só colocar no papel”, explicitou João Graça, não escondendo a expectativa positiva quanto ao futuro.
Com os edifícios renovados – estando em curso as obras de requalificação nas EB2,3 de Prado e Vila Verde, assumidas diretamente pelo Município apesar de serem edifícios sob tutela do Ministério da Educação –, a Câmara Municipal tem mantido colaboração estreita no apoio ao desenvolvimento de programas e recursos formativos e na assistência social aos mais carenciados. Júlia Fernandes salientou ainda esforço do Município em tempo de pandemia na aquisição de computadores, tablets e placas de internet móvel, assim como o trabalho em rede envolvendo professores, pais, juntas de freguesia e IPSS.
O investimento na renovação do parque informático será uma das necessidades identificadas e que sobressaiu face à implementação do ensino à distância em tempo de confinamento social. Uma falha que resultou de “12 anos sem investimento” ao nível dos recursos informáticos e tecnológicos nas escolas do país – como denunciou David Justino.
O ex-ministro da educação fez questão de esclarecer que se trata de “uma falha do sistema que aconteceu por causa da estratégia ou da tática, mas antes à falta de treinador”, criticando expressamente os titulares da pasta da educação.
“Quando chegamos ao confinamento, de forma geral, os equipamentos escolares nas escolas eram de 2010 em alguns casos e de 2004, noutros. As exceções a este quadro só acontecem graças a investimentos no apetrechamento das escolas por parte dos municípios e das comunidades escolares”, lamentou o professor catedrático.
“Primeiro, formar boas pessoas”
A intervenção dos municípios para colmatar as carências informáticas e outros recursos dos alunos foi destacada ainda pela psicóloga Ana Isabel Lage, considerando o impacto da resposta à pandemia nas aprendizagens e no crescimento das alunos.
“Vamos ter muitos desafios ao nível da saúde mental”, reconheceu Ana Isabel Lage, para além da necessidade de “recuperar aprendizagens e processos de ensinamento que não ficaram consolidados”.
Nesse âmbito, a psicóloga chamou a atenção para a distinção entre os alunos com estrutura social e familiar sólida, que se mantêm interessados nas aulas online e com postura académica, em contraponto aos alunos que se desligam do processo formativo – sendo que nestes casos se tornará “mais difícil” a reintegração no plano normal de formação pedagógica.
No meio deste turbilhão de “acontecimentos não previsíveis e contingentes” em que vivemos, David Justino recomendou que se deve “pensar muito seriamente sobre como lidar com os problemas e não continuar na obsessão do dia seguinte, que leva a promover uma visão imediata das finalidades da educação”.
“Temos de pensar de forma mais simples. Em vez de andarmos tipo barata tonta, a mudar para aqui e para ali, concentremo-nos no que é fundamental na educação: conhecimento, formação das pessoas como seres humanos e como cidadãos. Primeiro, garantir a dimensão fundamental de termos boas pessoas, com valores sociais e humanistas, para depois serem competentes. Não podemos começar olhando só para o resultado, para a produção de mão-de-obra. Não adianta ter um dirigente competente, se for má pessoa”, explicou David Justino.
O ciclo de conferências online “Vila Verde 2030” regressa depois da Páscoa, a 9 de abril, com a quarta sessão dedicada ao tema “Ação social, solidariedade e voluntariado”. Tem início previsto para as 21h30, com a participação do padre Lino Maia (presidente da CNIS – Confederação Nacional das IPSS), António Tavares (provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto) e Susana Gonçalves (coordenadora do Centro Comunitário da CVP na Vila de Prado).