OPINIÃO

Epopeia na Senhora da Paz

Não obstante tudo aquilo que Amares tem para nos oferecer, e, não é pouco, há um local para onde, amiúde, me desloco com imenso prazer.

Fruto de há época residir por perto, e, de, naturalmente me haver habituado à amizade e sã convivência dos respectivos frequentadores, o café/restaurante “Confraria da Senhora da Paz” tornou-se indubitavelmente um destino de eleição, sobretudo, ao domingo.

Para quem não conhece, daquele pequeno promontório foi-nos oferecida a possibilidade de vislumbrarmos a nossa bela vila de Amares, no âmbito de qualquer dos quadrantes. A Este, a fronteira com Vieira do Minho, Póvoa do Lanhoso e o curso refrescante do Cávado; a Norte, a muralha verdejante do monte de São Pedro, Caires e Paredes Secas; a Sul, o luzeiro das várias freguesias centrais – Amares e Ferreiros –, com Braga a adivinhar-se por detrás da montanha; e a Oeste, um pôr-do-sol inesquecível, a “pari passu”, acompanhado desde o miradouro da pequena capela.

Lá em cima, no alto da Senhora da Paz, a área apetecível e frondosa convida, cada vez mais, os mais diversos comensais a juntarem-se para uma refeição ao ar-livre, sob a natural representação estética da tela, bem como do verde, tão nosso, tão minhoto, emprestado pela frescura das árvores.

Acontece, de igual modo, que desde há quatro anos, o Sr. Manuel se aventurou a subir o monte e iniciou um processo de exploração do café “Confraria da Senhora da Paz”, no qual podemos encomendar algumas dos melhores petiscos que podemos encontrar por Amares. O Sr. Manuel é, também, do certo modo, responsável pela revitalização de um espaço que se encontrava votado ao abandono. Ora, aliando a qualidade do produto, a simpatia natural do responsável, a superior familiaridade dos convivas, e, enfatizando, a beleza natural do recinto, a deliberação, como se calculará, é unanimemente favorável.

Neste sentido, sob a égide de uma enfermidade que, infelizmente, já provocou milhões de mortes ao longo de todo o mundo, conquanto apresentando Portugal um dos melhores resultados ao nível global, nós, os assíduos contubernais do café/restaurante, continuamos sem compreender a actuação pidesca das mais diversas forças de segurança que, repetidas vezes – quase diariamente – ordenam que clientes e, não só, abandonem o local, sancionando com multas pecuniárias todos os que assim o não procederem.

O SARS-CoV-2 não pode tornar-se o superior argumentário para a dominação massiva das populações. Ou, por outro lado, a justificação da perigosidade da transmissão da COVID-19 deveria vigorar para todos, e, não, apenas para alguns. Considero que esta acção das forças de segurança (uma vez que “forças da autoridade” ficou para lá do benfazejo e progressista 25 de Abril) tem patenteado laivos de medo, incompatíveis com uma Democracia adulta, e, sobretudo, para mal de todos, afugentado os naturais viandantes do alto da Senhora da Paz, e, subsequentemente, do primoroso café/restaurante “Confraria da Senhora da Paz”.

Cúmplice do irresponsável olvido dos mais diversos executivos camarários, a acção policial, da GNR, por conseguinte daqueles que respondem e assumem pela jurisdição das várias zonas do nosso concelho, devem, sempre, apesar das épocas, do fruto dos tempos, e de uma doença que nos atribui muito mais responsabilidade individual, contemplar o bem-estar das populações, e respectiva segurança, com proactividade pedagógica, nunca, em tempo algum tornando-se actores principais da depredação da economia – mesmo que de um pequeno café -, visto que o Povo lutará sempre, mais uma vez, pela estabilização financeira, contra o populismo, contra o medo, e, principalmente, contra as brutais iniquidades que já se fazem sentir, através das acções dos de sempre.

Bruno Marques, [Escriturário. Marxista]

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